Quando a Falta de Amor se Torna Costume
Geraldo é um quarentão normal.
Chega do trabalho, larga a botina na sala que a mulher acabou de limpar, dá uma bronca na filha por qualquer motivo, se dirige até a cozinha para perguntar à esposa o que havia para comer.
Estão casados há 15 anos.
Hoje, especialmente, sua esposa perguntou se poderiam passear com a menina no fim de semana, pois fazia tempo que não saíam. Ele disse que não, pois domingo era dia de churrasco e precisava guardar grana pra cerveja.
A mulher fica chateada, mas não fala nada.
Ele senta na frente da televisão e ali fica até comer e ir dormir.
Não há afagos, nem abraços entre nenhum membro dessa família comum.
No dia seguinte, Geraldo chega e encontra a polícia em frente a seu portão.
Havia um comunicado triste e importante o aguardando: sua mulher havia ido até a casa da mãe, sua sogra, emprestar dinheiro para passear com a filha e, no caminho, um carro desgovernado atropelou as duas. Morreram imediatamente.
O homem se debruça sobre as grades do portão, olha para o sapatinho desbotado da filha em frente ao quintal, as rosas que a falecida esposa estava cultivando e começa a chorar, descontroladamente.
- Meu Deus, o que eu fiz? O que eu fiz, meu Deus? Meu amor, minha princesa, me perdoem!!! O que foi que eu fiz, que merda de homem eu sou???
De repente, o alarme toca. Geraldo acorda, ainda em desespero e espia ao seu lado, sua mulher, dormindo maravilhosamente bem.
Se arruma, faz o próprio café e, antes de sair, beija o rosto da esposa, que acorda e o encara, completamente confusa. Geraldo se aproxima e diz , baixinho, que o churrasco de domingo estava cancelado.
Em seguida, se dirige ao quarto da filha e sussurra carinhosamente um "eu te amo", meio envergonhado.
Depois desta manhã, Geraldo nunca mais será o mesmo.