Chupim

28.12.2018

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Todos os dias escutava o seu berro agudo e frenético. Percebi esse grito, em um dia em que estava na varanda de casa, e vi no gramado em frente, um pássaro negro do tamanho de um sabiá, parado e abanando as asas e de bico aberto. Então, veio outro, metade do seu tamanho e lhe deu comida . Engoliu, e continuou seu grasnar intenso, esfomeado, fazendo com que a pobre coitada da pequena mãe buscasse mais comida para o "nenezão"! Ela corria pra lá e pra cá, ele esperava, asas batendo, gritando. Era um "chupim" com a sua mãe adotiva: uma tico-tico, tico mesmo de pequenina - uma graça sua ação maternal.

Fiquei pensativo. Sabia da história desse pássaro que colocava seus ovos nos ninhos de outros - achava que comia os desse hospedeiro - para ser criado pela mãe adotiva. O lado cruel da natureza para a sobrevivência das espécies.

Vendo essa realidade ali no meu jardim, me deixou mais curioso ainda. Para saber como era a relação de diferentes tipos da espécie de pássaros, fui pesquisar na internet:

"O chupim é conhecido por colocar seus ovos nos ninhos de outras espécies de aves, para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los como filhotes, um processo conhecido como parasitismo de ninhos. Por isso acabou virando sinônimo de aproveitador. São diversas as espécies parasitadas por essa ave, mas a mais comum de se ver alimentando um filhote de chupim é o tico-tico.

Registros desse parasitismo: tiê-sangue, tiê-preto, cardeal dentre outros também já foram feitos. No Brasil, mais especificadamente no Rio Grande do Sul onde a espécie é encontrada com grande frequência em razão das plantações de arroz. Outra curiosidade, no Rio Grande do Sul, é a denominação de "Chupim" a pessoas que se aproveitam da situação para tirar proveito de outras, ou simplesmente como se fala por todo o país ficar na "aba do chapéu".

Perfeito! Era assim que ele agia, aproveitando-se da ingenuidade e benevolência dos outros em benefício próprio. Pensei também, nós humanos, fazemos o mesmo de várias e diferentes formas. Somos no fundo iguais, não importa a espécie, a raça, a cultura, o credo: tendo uma oportunidade, somos "chupins! " Será também, uma questão de sobrevivência?

Volto-me ao meu jardim. O chupim e a sua mãe adotada: ele, com o seu gritar de fome insaciável; ela, nos seus curtos e rápidos passos na busca de comida para mantê-lo. Um perfeito chupim.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 18/04/2021
Reeditado em 18/04/2021
Código do texto: T7235050
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