A minha Primeira Jaca

08.04.2021

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-Olha só o que eu te trouxe – diz minha mulher entrando em casa com uma enorme jaca.

-Uma jaca! Faz tempo que não comemos uma, não é querida? – digo.

-Vamos colocá-la na geladeira para depois tirar os bagos geladinhos. É uma delícia – completei.

A fruta sobre a mesa me fez lembrar da minha primeira jaca. Foi em 1974, em uma viagem ao Nordeste do Brasil que fiz com três amigos. Viajamos de várias formas: de trem, barco e carona, principalmente. Fizemos o vestibular e fomos para essa aventura de adolescentes. Saímos em janeiro daquele ano.

O roteiro era descermos o rio São Francisco em barco a vapor de roda d’água, como os do rio Mississipi, nos Estados Unidos - o barco partia da cidade de Pirapora, Minas Gerais, indo até Petrolina, Pernambuco, percorrendo 1200 km; depois, de carona, ir à Fortaleza e de lá até Salvador, acampando pelas cidades praianas.

Éramos quatro amigos e uma barraca. Dividíamos em dupla para pegar carona e alternar o transporte da barraca entre os percursos. Os da barraca iam para a estrada antes, pois deveriam chegar primeiro para montá-la. O reencontro era marcado em uma praia conhecida da próxima cidade. Algumas vezes demorávamos a achar o local combinado, mas tudo terminava bem e em comemoração.

Em um dos trechos, viajávamos eu e o “Alemão”(Ricardo) na carroceria vazia de um caminhão. Ela vibrava fortemente pela alta velocidade desenvolvida, fazendo com que rodássemos em círculos. Ríamos da situação. O veículo parou embaixo de uma frondosa jaqueira junto a uma banca de frutas. O motorista desceu chamando-nos com seu falar nordestino:

-“Venham cume uma fruta qui não conhecem não, ó xente!”

No chão da sombra larga e fresca havia jacas empilhadas. O motorista bateu em várias delas escolhendo duas, dando-nos uma. E risonhamente comentou com o vendedor de jacas:

-“Vão cume inté imbuxá, ó xente”.

A fruta estava maduríssima com a casca rugosa mole, fazendo com que se abrisse facilmente. O cheiro doce era maravilhoso e estávamos com fome. A fruta veio a calhar.

O motorista antes de entrar na cabine nos avisou:

-“Cuida com a cola dela qui gruda na mão i num sai mais não.”

Seguimos viagem, agora com a estrada movimentada, diminuindo a velocidade do veículo, dando condições para que pudéssemos comer a jaca. Eu estava curioso, Ricardo nem tanto.

-Já comeu jaca? – perguntei-lhe.

-Não.

-Nem eu. O cheiro lembra a banana e me falaram que é bem doce. Vou abrir para ver como é.

Ela veio enrolada em um jornal, e com a casca mole, facilitava abri-la. Peguei-a pelos extremos e forcei-a sobre o jornal, quebrando-a ao meio, aparecendo seu miolo de gomos amarelados. Um odor doce e fresco emanou convidativo. Coloquei um gomo na boca sentindo todo o frescor do seu característico sabor suave e doce, muito doce. Uma delícia mesmo. Ricardo olhava-me curioso.

-É bom? – perguntou-me.

-Delicia! Come um para você ver. Adorei.

Ele pegou um bago, degustou e gostou. Gomo a gomo, a comemos toda, deliciosa. O motorista tinha razão. A sua cola impregnou os nossos dedos e mãos. Tentamos limpar com o jornal. Piorou, ficava o papel preso nas mãos e dedos.

Chegamos ao nosso destino. O motorista parou o caminhão, descemos indo à cabine agradecer-lhe a carona e a jaca.

-Obrigado pela carona e pela jaca. Adoramos.

-“Né não bixin. Fruta mucho boa i alimentia. A cola fica na mão um tempio. Lave com ólio de cuzinhá qui sai. Boa viagem” – desejou-nos o simpático caminhoneiro.

Fomos ao encontro dos outros dois amigos e contamos a nossa história, sem antes comprar uma lata de óleo e lavarmos as mãos no mar. A cola demorou alguns dias para sair, como disse o motorista.

Foi assim que conheci e comecei a gostar dessa fruta típica e deliciosa originária da Índia. Inesquecíveis lembranças dessa viajem. Meu querido amigo Ricardo, “Alemão”, infelizmente já se foi. Saudades daqueles momentos que passamos juntos na carroceria de um caminhão na nossa juventude. Bons tempos.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 10/04/2021
Código do texto: T7228626
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