ENFIM
 — Está indo aonde?
— Para a rodoviária.
— Rodoviária? Você vai viajar?
— Claro que vou. Não percebeu que estou levando uma mochilona pesada pra caramba?
— E não vai me levar com você?
— Claro que não. A gente só tem três meses de namoro.
— E daí? Só tem três meses, mas está sendo intenso. Parece que já faz um ano.
— Num acho que está sendo tão intenso. A gente só se vê duas vezes por semana. Com a Sandrinha eu namorava todo dia.
— E lá vem você novamente falando da sua ex. Se ela era tão boa assim, por que você não está com ela agora?
— Ela mudou de cidade, lembra?
— E desde quando mudar de cidade é motivo para não namorar mais? Acho que ela encontrou alguém melhor que você.
— Se encontrou, não sei. Acho que eu é que encontrei alguém pior que ela.
— Três meses e já estamos brigando?
— Brigando não, apenas uma D.R., entende?
— Se eu não tivesse vindo ao banco para meu pai, eu nem ia ficar sabendo que você iria viajar.
—Eu ia te ligar assim que eu chegasse lá.
—Lá onde?
— Ih, que domínio, heim?
— Só para saber. Vai que alguém me pergunte o que eu estou fazendo sozinha no final de semana se tenho namorado.
—Vou para a casa da dona Mabília.
— Aquela que foi nossa professora de matemática no segundo ano?
— Sim, aquela mesmo.
—Mas ela não te reprovou? Você teve até que pagar matemática no terceiro ano pra passar, lembra?
— Lembro. Claro que lembro. Você que me ajudou a fazer os trabalhos.
— Já estava de olho em você, seu bobão. O que você vai fazer na casa daquela megera?
— Não fala assim da minha prima.
— Prima? Eu não sabia. Desculpa. Mas prima, como?
— Casada como meu primo terceiro.
— E você não ficou com raiva dela?
— Ano passado ela visitou minha mãe. A gente conversou. Ela não tem culpa se eu não queria passar. Eu era bem malandro.
— Era mesmo. Onde ela mora?
— Guarapari.
— Praia? Você está indo para a praia?
—Sim, Verônica. Eu estou indo para a praia.
— E não vai me levar?
— Não. Ano que vem quem sabe. Se a gente ainda estiver namorando. Agora me deixa ir, senão vou perder o ônibus.
— Vai, amor, vai com Deus.
— Enfim, vou passar um final de semana sem essa mina chata. — ´pensou ele ao pegar o ônibus.
— Enfim eu posso ficar com o Mauro. Vou mandar um zap para ele agora. — pensou ela assim que chegou em casa.

 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 03/04/2021
Reeditado em 05/04/2021
Código do texto: T7223310
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