A hóspede
Dona Quinzinha recebeu um telefonema da comadre Dorinha. Tiveram uma conversa de mais de uma hora. Comadre Dorinha era só lamento. O motivo era que em casa não era mais compreendida. Dona Quinzinha que era tão solidária convidou a comadre a passar alguns dias em sua casa. Comadre Dorinha aceitou de pronto.
No meio da semana a campainha toca e a comadre Quinzinha recebe com satisfação a doce Dorinha. Instalou-a no quarto de visitas. Estranhou um pouco a quantidade de malas. Três. Mas depois pensou que a comadre era muito vaidosa e na certa quis levar o maior número de roupas possível, mesmo que fosse para ficar poucos dias.
A comadre passou um café e as duas se sentaram na varanda. Foi então que Dorinha contou que em casa estava difícil, ninguém a entendia muito bem. Não sabia bem o porque, mas vivia se esforçando para agradar toda a família.
Dona Quinzinha sentiu um aperto no peito, teve dó da comadre. Seu caso era diferente, vivia muito bem com a família. Então sentia que deveria apoiar a comadre. Que ingratidão do compadre e dos filhos para uma pessoa tão adorável quanto comadre Dorinha.
No dia seguinte a comadre acordou quinze para as dez da manhã. Disse que não dormiu bem a noite por causa do colchão que era muito desconfortável. Sentou-se a mesa e provou um pouco de cada quitanda. Comeu dois pães de queijo e disse a comadre que daria uma receita de pão de queijo que não ficasse tão ressecado quanto o dela. Comeu o bolo de laranja e perguntou porque a comadre não colocou raspa de limão.
– Sabe o que é comadre, aqui em casa ninguém gosta de raspa de limão.
– Mas como não, você deve colocar sim, eles tem que se acostumar.
– Sei! Mas toma o café comadre, tá uma delícia.
Dorinha levou a xícara a boca.
– Argh, que café mais amargoso. Tá faltando açúcar em casa comadre?
– Sabe o que é, o Tião gosta de café bem forte.
– Então deixa que amanhã eu faço o café. Você vai ver o quanto é bom!
Conversa vai, conversa vem. O dia passa bem devagar para dona Quinzinha. Até que a noite quando toda a família está reunida para o jantar a comadre traz assuntos bem agradáveis a conversação. Os filhos e o marido de dona Quinzinha ficaram bem a vontade com a boa senhora. Riram bastante.
Na manhã seguinte a comadre acordou mais cedo. Não se lembrou que faria o café e ainda disse que preferia um chá.
Enquanto saboreava a broa de fubá. Passou os olhos por toda a cozinha. E fez um comentário que deixou a dona da casa de queixo caído.
– Comadre não gostei da sua cozinha. Muito sem graça. Precisa de uma boa reforma.
– Você acha?
– Claro, eu também estive observando sua sala. Está precisando de cortinas novas. A cor é horrível. Estive pensando em sairmos e você escolher umas bem bonitas com a minha ajuda.
– Que bom comadre, vai me presentear com cortinas novas?
– Não, mas vou ajudá-la a escolher as cortinas mais incríveis para sua sala. Você sabe que tenho bom gosto.
– Impossível comadre eu não posso sair a rua hoje, tenho que faxinar a casa.
– È uma pena que eu não possa ajudá-la com a faxina. Estou com dor na coluna e depois do almoço eu costuma tirar um cochilo.
– Não se preocupe, você é minha hospede.
Assim se passaram duas semanas bem longas para dona Quinzinha. Até que ela sentiu pena do compadre e dos filhos da comadre Dorinha.
Assim houve um estranhamento entre as duas. A comadre já não estava aguentando a ladainha de Dorinha. E houve um dia que Dorinha quis mudar o visual da comadre. Não achava nada interessante no estilo dela.
Abriu o armário da comadre e foi jogando as roupas sobre a cama. E finalmente concluiu que nada seria aproveitado.
Mas dona Quinzinha foi categórica e disse estar satisfeita com seu guarda-roupa.
Voltaram para a cozinha.
– Então comadre Quinzinha, que tal você fazer um bolo com raspinha de limão pra sua comadre? E um almoço caprichado com uma boa lasanha.
– Claro comadre. E que tal você me ajudar a pagar as contas do mês, aguá, luz, telefone. Também estou precisando de uma mãozinha aqui na arrumação da casa.
E dona Dorinha de olhos arregalados responde.
– Não vai dar comadre, eu me lembrei que amanhã é o aniversário do meu filho mais velho, vai fazer vinte cinco anos, acredita? O tempo passa né comadre. Eu volta pra casa para comemorar o aniversário dele. Estou com muitas saudades da família.
– Eu acredito que eles também, comadre!