Vida Vazia

Era sempre assim.

Os dias pareciam iguais em sua rotina interminável.

Vida vazia, sem perspectivas.

O que foi sua vida até ali? O que ela construiu? O que ela criou?

Nada.

Estava passando pela vida. Dia após dia fazendo sempre as mesmas coisas.

Não estudou além do ensino médio, nunca trabalhou, nunca namorou, nunca foi importante para ninguém. Apenas mais uma mulher que vivia sem objetivos e sem emoções.

Invejava as pessoas que tinham um trabalho, um amor, um sentido na vida, principalmente as mulheres que conseguiam ser tudo o que ela nunca havia conseguido ser.

Suas amigas tinham uma vida de sucesso profissional, se casaram, tiveram filhos.

E ela? Estava passando pela vida sem viver.

Por que nunca foi capaz de fazer nada por si mesma?

Nunca precisou trabalhar, nunca quis estudar, nunca encontrou ninguém com quem pudesse ter um romance. Sempre se fechou, sempre se fez de forte mesmo morrendo por dentro. Apesar de sentir falta de uma companhia, sempre dizia que não queria se unir a ninguém.

Cada vez mais se afastava das pessoas ficando completamente sozinha. Ela fazia isto talvez para se punir. Em sua concepção, ela nunca fora merecedora de nada.

Cada dia a sua existência se tornava um fardo mais pesado e difícil de carregar.

Não conseguia chorar. Sentia-se seca. Era como se em seu corpo não existisse vida.

Numa noite ela estava se sentindo pior que em todos os seus dias de existência

Ela saiu de casa em direção a areia da praia.

Soprava um vento suave. As árvores balançavam de maneira preguiçosa.

A noite estava agradável e a lua cheia clareava a areia.

As ondas da praia batiam cantando uma canção ritmada.

Ela caminhava pela areia como se não visse nada. Seu olhar estava vazio e ela andava como se fosse um autômato.

De longe um homem a observava com atenção. Ele a seguia de longe. Sentia que havia alguma coisa errada.

De repente ela começou a caminhar em direção à praia. Entrou na água e foi caminhando mar adentro.

O homem percebeu o que estava acontecendo e entrou no mar atrás dela. Conseguiu tirá-la da água.

Ela estava sentada na areia. Seu olhar estava vazio como se estivesse sem vida. Ele pergunta:

-Por que você fez isto? O que leva uma mulher tão linda a querer se matar.

-Linda, eu?

-Sim. Nada justifica uma pessoa tirar a própria vida.

-Que vida? Não tenho vida, só existência.

-E por que não encontra um objetivo, um motivo para viver e não somente existir?

-O tempo passou e eu fiquei estagnada. Não sei viver. E não suporto mais existir.

-E por que ficou estagnada?

-Nunca tive coragem de tomar minha vida nas mãos. Nunca fui capaz de fazer nada por mim. Olho para as pessoas vivendo, trabalhando, amando, sendo felizes e me sinto amarga. Só sei invejar a coragem destas pessoas.

-Onde você mora?

-O que interessa isto?

-Você está com as roupas molhadas.

-O que tem isto?

-Você pode adoecer. O vento está frio.

-Por que você se preocupa comigo? Ninguém se preocupa comigo.

-Será que não?

-Cada um tem sua vida. A minha existência não tem importância pra ninguém.

-Não pense assim. Todo mundo é importante para alguém.

-Eu não sou ninguém.

-Posso fazer alguma coisa por você?

-Pode. Dê um sentido pra minha vida

-E como posso fazer isto?

Sem dizer nada ela levantou-se. Ele levantou-se também. Ela o beijou. Começou esfregar seu corpo no dele. Sua roupa molhada deixava entrever seu corpo. Ele tocou o corpo dela com ousadia e ela estremeceu. Jamais fora tocada por um homem assim. Ela tocou o corpo dele como se fosse uma mulher experiente. Ela abriu a calça dele. Ele deixou-se levar e a despiu. Acariciou todo seu corpo. Com delicadeza deitou-a na areia da praia. Deitou por cima dela e transaram loucamente. Ela se entregou como se fosse o último ato de sua vida.

Os dois ficaram deitados nus na areia como se só houvesse eles no mundo. Ele diz:

-Você era virgem.

-Sim. Eu era. Nunca tive um namorado. Nunca ninguém se interessou por mim.

-E por que se entregou assim? Você nem me conhece. E pode nunca mais me ver.

-E daí? Eu não quero romance com você. Só queria viver um pouco.

-Você é daqui ou é turista?

-O que interessa isto?

-Apenas curiosidade.

-Amanhã seremos apenas desconhecidos. Mais nada. Mas você fez muito por mim.

-Fiz?

-Sim. Hoje eu me senti viva. E isto foi muito. Nunca mais serei a mesma.

-Nunca imaginei fazer isto por alguém. Minha vida também nunca foi de muitas emoções. Fico feliz por do alto de minha vida medíocre poder fazer o bem para alguém.

Ela se veste. Olha para ele e diz:

-Adeus.

Vira e vai caminhando calmamente. Agora ela era uma mulher. A vida pulsou nela naqueles breves momentos.

A partir daquele dia ela sempre era vista caminhando pela praia a noite. E muitas vezes foi vista deitada na areia da praia com algum turista…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 31/03/2021
Reeditado em 13/05/2023
Código do texto: T7220852
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