A PROTEÇÃO
Conto de Gustavo do Carmo
— Espera aí! Vou botar a camisinha.
— Ah! Meu amor. Estamos casados agora.
— Mas eu quero te proteger.
— Me proteger de quê?
— De alguma doença sexualmente transmissível. Eu ainda não fui a um urologista. Estou com medo de saber se eu tenho alguma coisa.
— E por que não foi até agora, Adolfo? Namoramos durante um ano. Ficamos noivos por uns três. Ralhou.
— Tive vergonha.
— Vergonha de quê?
— Vergonha de tudo, Sara! Respondeu impaciente. — Do médico, de alguém saber que procurei um urologista sem falar nada. Inclusive de você.
— Que bobagem! Se tivesse me falado eu teria ido com você, amor.
— Então, estou falando agora. Vamos amanhã comigo? Estamos na Suiça. Aqui deve ter bons médicos.
— Melhor, não. No Brasil também há bons médicos. E falam português claro. Vamos curtir a nossa lua-de-mel primeiro, sem preocupações.
— Então tá. Mas hoje vou usar camisinha.
— Ah, não. Já estamos casados. Precisamos começar a praticar sem proteção para termos o nosso filho. Hoje eu estou ovulando.
— Eu não posso arriscar, Sara! Eu quero te proteger.
— Confio em você. Não tenho medo de DST.
— Mas tenho medo de perder você pra ela.
— Não vai perder. Eu sou vacinada contra o HPV.
— Quando você tomou essa vacina?
— Antes de te conhecer.
— E se essa vacina já venceu? Não. Não vamos arriscar.
— Vamos sim! Vem.
— Eu quero te mostrar uma coisa.
Adolfo leva as mãos de Sara ao seu pênis. A esposa sentiu alguns caroços. Tinha três. Viu mais de perto e pareciam três espinhas e um cravo de pele.
— É. Melhor procurarmos ao médico. A gente vê isso quando voltar ao Brasil.
Apesar da preocupação com o seu pênis, Adolfo e Sara tiveram uma lua-de-mel maravilhosa em Genebra. Tanto no turismo quanto na vida sexual. O sexo, aliás, tornou-se uma rotina. Adolfo continuou se protegendo, até que um dia ele esqueceu.
Chegaram ao Brasil, foram juntos ao urologista. Não era nada. A médica (Adolfo tinha vergonha de procurar um homem, mesmo depois de casado, para protesto de Sara), já uma senhora de 60 anos (para alívio de Sara), receitou apenas algumas pomadas e quinze dias de repouso sexual.
Sara engravidou ainda na lua-de-mel. Teve uma linda menina loura de olhos verdes, chamada Anita, que ficou órfã de pai aos dez anos porque Adolfo morreu de câncer de próstata.