Férias no sítio: Jabuticabeiras

Desde pequena ia nas férias escolares na casa de minha tia Maria de Lourdes no Mato Seco. Um bairro da zona rural de Cesário Lange, Estado de São Paulo. O sítio era uma delícia e eu me esbaldava de brincar nas terras que o cercavam. Pelo terreiro, pomar, cafezal e na vizinhança do sítio do Senhor Tomáz com Dona Olinda e sua filha Leonor, minha amiga durante as férias. Minha tia tinha uma filha, minha prima Lenice, que era bem menor, mas brincava junto também. Eu ia no cafezal, mas morria de medo de encontrar com o saci. Meu tio Juvenal era dono do cafezal e o Senhor Tomáz era dono de uma infinita plantação de abacaxis. Como era gostoso passar as férias no sítio. Ia minha mãe, meus irmãos e eu. Era uma festa todo dia e cheio de aventuras que nunca saem de nossas lembranças.

Uma grande aventura, eu me lembro muito bem, pois era época de jabuticaba e Leonor e eu adorávamos subir nos pés de jabuticaba para brincar de casinha e é lógico, nos entupir de deliciosas jabuticabas bem docinhas. Eu achava engraçado, pois Leonor chamava as jabuticabas de “fruita”. Ela me dizia: - Vamos hoje brincar nos “pé de fruita”? E lá íamos cedinho subir nos pés de jabuticaba e passávamos o dia todo ali entretidas. Era uma festa sair ajuntando coisas para a casinha. Latinhas, potes velhos jogados pelos cantos do sítio, tábuas, tijolos, pedras, tudo que deixasse a casinha linda e ela ficava ali montada as férias inteiras. A casinha era montada no chão, entre duas jabuticabeiras frondosas e carregadas daquelas bolinhas pretas que era uma tentação. Cada árvore era uma extensão da casa e inventávamos para cada galho um cômodo de nossa majestosa mansão. A minha tinha muitos quartos, suítes, banheiros, salas e saletas, sala de jogos, piscina coberta e aquecida e tudo que nossa imaginação pudesse inventar. Meu guarda-roupas era imenso, com muitos vestidos de baile estilo princesa, lenços, chapéus, eu era uma verdadeira princesa, madame morando numa mansão! Naquela época não nos importávamos em falar de maquiagem. A beleza valorizada era a natural. Era divertido pular de galho em galho e ficar descrevendo cada cômodo da magnífica mansão. Uma visitava a jabuticabeira da outra e era muito divertido e interessante ouvir a descrição de cada ambiente e cada uma de nós queria que fosse a mais bela de todas, mas por incrível que pareça, não tinha competição entre nós duas. Era um mundo de faz de conta só nosso e tínhamos este pacto de zelar por ele, até que viessem novas férias. As férias eram duas vezes no ano e que alegria quando chegava o dia de ir para o sítio.

Não sei se alguém tem em sua memória que sua infância não foi boa ou que não fez tudo aquilo que teve vontade, mas eu com o maior orgulho do planeta e posso lhes dizer que minha infância foi maravilhosa, com verdadeiras brincadeiras de criança. Não tínhamos brinquedos sofisticados, tudo vinha da nossa criação, aproveitávamos o que tinha a nossa volta e plimmmm, num piscar de olhos transformávamos tudo num mundo lindo de fantasia e interativo com a natureza e as pessoas que nos cercavam.

E ainda não satisfeitas, a noite nos reuníamos na sala, em volta da luz de querosene para relembrar o que tínhamos feito e programar mais atividades para o dia seguinte. Vez ou outra, jogávamos bingo, que tia Maria trazia um saquinho por ela costurado com as cartelas, peças de madeira e feijão ou milho para marcar os números sorteados.

A noite sempre era uma festa, todos reunidos conversando, escutando histórias, a que mais me intrigava era sobre o saci que vinha sempre ao cafezal.

Mas esta história fica para um próximo conto animado das férias no sitio da tia Maria e do tio Juvenal.

Sissili
Enviado por Sissili em 25/03/2021
Código do texto: T7215628
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