Conto das terças-feiras – O roubo da bomba
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 23 de março de 2021
Como fazia todos os sábados, Alberto foi visitar seu sítio, localizado a 18 quilômetros da cidade onde morava. Levava ração para as galinhas poedeiras que criava, para complementar a sua renda, com a venda dos ovos. Era uma pequena área, 1,5 ha, onde também plantava abóbora, quiabo, tomate, berinjela, coentro e cebolinha, para uso pessoal. Criava codorna e pato, em pequenas quantidades, também para uso caseiro. A área contava com algumas árvores frutíferas, como: açaizeiro, jaqueira, cacaueiro, mamoeiro, jambeiro, limoeiro e outras sem muita importância.
A primeira coisa que Alberto fez ao comprar esse sítio foi mandar murá-lo. Fez uma casa de alvenaria para o caseiro, que antes era de madeira, construiu um quarto com banheiro e enorme alpendre, para uso da família, quando para lá se deslocava nos fins de semana. Um galpão com capacidade para abrigar 1.000 penosas, isto é, as poedeiras. Havia também uma quadra de voleibol de areia, muito utilizada aos domingos, pela família e amigos convidados. Era nesse ambiente que descansava dos dias estressantes de trabalho.
Como passatempo, ainda cultivava orquídeas e outras plantas ornamentais, em um jardim, onde plantava exemplares doados pelos amigos ou comprados em floriculturas. Era uma beleza!
Para manter a harmonia de tudo isso era necessário contar com água suficiente ao abastecimento dos animais e plantas. Uma cacimba foi construída e nela instalada uma bomba, para levar água até a uma caixa colocada em ponto estrategicamente alto para descer por gravidade ao galpão e ao sistema de irrigação das plantas. Alberto se orgulhava de seus feitos, de ter conseguido criar aquele paraíso.
Dois anos depois de ter adquirido o sítio, promovido modificações, implementado as acomodações para a família e para o caseiro, começaram os problemas. Algumas galinhas começaram a morrer, relato do caseiro que chegava a mostrar o local onde as havia enterrado. Ele via somente muitas penas e alguns ossos, pois, nunca desconfiara do caseiro. As codornas, antes poedeiras por excelência, tiveram suas posturas suspensas, conforme informou o caseiro:
— Seu Alberto, um caminhão que está tirando areia do rio, dia e noite, vem assustando as codornas, elas não estão pondo.
— Não tem problema, a minha preocupação é com as galinhas, - disse Alberto.
Dois dias depois os caminhões que retiravam areia do rio clandestinamente, foram apreendidos e o silêncio no local voltou a reinar.
Naquele mesmo domingo, de volta para casa, Alberto parou em um bar para comprar uma garrafa de água para sua esposa e foi assim recebido:
— Seu Alberto, o senhor não mandou os frangos essa semana? Eu tive que comprar de outra pessoa.
Intrigado por aquele questionamento, já que nunca autorizara a venda de galinhas, Alberto respondeu:
— Quantos frangos o senhor quer para essa semana?
— O mesmo de sempre, cinco!
Sem dizer nada Alberto recebeu a garrafa de água e se dirigiu para o carro rumo à sua casa.
Na sexta-feira seguinte foi ao sítio e encontrou novo problema:
— Seu Alberto, essa noite roubaram a bomba. Quatro homens armados de escopeta, mascara, arrombaram a porta de nossa casa, prenderam nós no banheiro e levaram a bomba d’água, algumas galinhas e desapareceram. Não foi possível seguir eles, porque ficamos amarrados.
Alberto, sem acreditar naquela história, sem dizer nada afastou-se, foi à vila mais próxima e voltou com um senhor. Chamou o caseiro e solicitou:
— Arrume suas coisas e deixe a casa, você não trabalha mais para mim.
— O senhor não pode fazer isso comigo, tenho família, disse o caseiro.
— Posso sim, ou você quer que eu chame a polícia pelos furtos que você vem cometendo aqui? Onde você escondeu a bomba, por que as galinhas eu sei onde estão. Enterradas em buracos que você fez por aí – apontando para diferentes lugares do sítio.
A conversa terminou, o caseiro pegou suas coisas, saiu sem dizer nada e o homem trazido da vila assumiu o novo emprego.