Caminhos

Onofre sempre ia ao trabalho fazendo o mesmo percurso, as mesmas ruas, as mesmas paisagens e durante 10 anos seguidos fez este caminho. Ele fazia automaticamente, sem perceber, pois para ele, era o caminho mais curto.

Um dia ele acordou mais cedo e resolveu ir logo para o trabalho, quando se deu conta que há anos fazia o mesmo caminho. Então naquela manhã ele saiu mais tranquilo e foi observando tudo ao seu redor e escolheu as ruas que iria, pois antes, as paisagens eram sempre as mesmas.

Quanta coisa havia mudado, casas novas, jardins, comércios e aquela velha casinha azul que tinha ali numa esquina, já não existia mais! E no lugar daquela velha casinha tinha um sobradinho todo avarandado. Como Onofre gostou de ter mudado de caminho para ir ao trabalho. Ele naquele dia foi animado para o trabalho e seu dia passou tão rápido que ele nem sentiu canseira.

E assim, ele resolveu a cada dia, sair mais cedo de casa, somente para fazer caminhos diferentes e conhecer novos lugares, novas paisagens. Num daqueles dias, ele passou novamente pelo sobradinho avarandado de esquina e viu uma linda moça sentada na varanda apreciando a paisagem. Ele nem percebeu que olhava intensamente para a moça, que resolveu cumprimentá-lo com um sonoro bom dia e um largo sorriso.

O coração de Onofre disparou e ele sentiu um misto de felicidade, de alegria e prazer. E a partir daquele dia, ele mudava os caminhos, mas sempre passava na esquina do sobradinho avarandado somente para receber entre o mais belo sorriso o seu bom dia matinal. A moça também retribuía o gesto com uma alegria e acenava para ele todas as manhãs.

Passaram-se semanas e Onofre não pensava em outra coisa, a não ser parar e pedir para conversar com a moça. Seu coração sentia lá no fundo que o sentimento seria retribuído, pois o sorriso da moça não era enganador.

Passaram-se três dias da tomada de decisão e ele arrumou-se mais do que de costume, perfumou-se mais, colocou uma roupa bonita e foi cortando caminhos até chegar no sobradinho de esquina todo avarandado. Chegando lá, para sua surpresa, a moça não estava na varanda, mas sim no portão, triste e cabisbaixa. Ele ficou aflito, pediu licença e foi ao seu encontro. Ele percebeu que ela havia chorado, pois os olhos estavam vermelhos.

Começaram uma breve apresentação e os dois se animaram na conversa, a moça até esqueceu a tristeza e sorriu novamente. Cada um falou um pouco de si e a moça revelou que ficara viúva a pouco tempo, mas estava grávida e por isso a tristeza em seus olhos, pois imaginava que jamais seria aceita por seu admirador de todas as manhãs.

Onofre ficou um pouco desconcertado, mas aos poucos foi colocando as ideias em ordem na sua cabeça e disse sobre suas intenções para com ela e que isso jamais seria um impedimento, desde que ela consentisse um novo relacionamento.

A partir daquele dia começou um namoro e Onofre respeitou a gravidez de sua amada e não demorou muito e ela o convidou para ir morar com ela, pois ficar sozinha a noite e no seu estado, não era bom.

Daquele dia em diante uma nova família surgiu e a vida de Onofre e de sua esposa era muito feliz. Depois de 8 meses, nasceu um lindo menino, que passou a ser amado pelos seus pais, pois o marido amava o filho, como se fosse seu.

Onofre se sentia grato por ter mudado seu caminho, porque foi através desta mudança de padrão que tudo começou a mudar em sua vida.