Garotão

18.03.2021

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Sessenta e sete anos, quase setenta, completo neste mês de março do segundo ano da pandemia. Tempo de vida, mais de meio século! Passou muito rápido. Quando menino imaginava que nessa idade estaria com os cabelos brancos, alquebrado, de bengala, chinelão e pijama. Um típico velho, como os daquela época.

Li no livro de Gabriel García Márquez “Memoria de mis Putas Tristes”, que percebemos que estamos envelhecendo quando nos vemos no espelho e somos a imagem do nosso pai. Estou a sua cara e todos os que o conheceram dizem ao me verem: Nossa, está a cara do seu pai, impressionante!

Estou bem física e mentalmente, aparentemente. Não me sinto como imaginava quando criança. Tenho o espírito moleque e brincalhão que me mantém assim “conservado”. Minha mãe tem uma ótima resposta, quando lhe perguntam como está tão bem com a idade avançada que tem: sou conservada no formol.

Vou à praia quase todos os dias. Moro em uma ao norte da ilha de Santa Catarina e nado cerca de 500 a 800 metros para relaxar e exercitar o corpo, coração e demais órgãos. A água é o meu meio: Mens sana in corpore sano.

Mas, convivo com dores diariamente, nas pernas, varizes; na bacia e nos joelhos sem cartilagem; nos músculos; no ciático; as do ácido úrico e por aí vai. Fora a batelada de remédios que tomo todos os dias para pressão, colesterol, humor, ansiedade, lactose e outros. É a idade, como dizem.

Viajei de moto há duas semanas a São Paulo e voltei com fortes dores na bacia e coluna. Mesmo nadando, as dores não passaram, incomodando-me muito, sem posição para sentar, deitar, andar. Um suplício! É a idade, dizem.

-Você precisa se alongar e fazer reforço muscular – disse-me categoricamente a minha mulher.

Coincidentemente, nesse dia da sua fala estava indo nadar e encontrei com uma moça, saindo de um prédio, carregando uma sacola e tapetes de ginástica. Perguntei-lhe curioso:

-Bom dia, vai treinar?

-Bom dia. Vou dar aula de ioga.

-Opa, que legal. E onde você dá as suas aulas?

-Em uma casa na praia, pertinho daqui. Estou indo para lá, quer conhecer?

-Sim.

Fomos caminhando e conversando sobre os meus problemas de dores. Pensei que, quem sabe, seria bom fazer ioga para alongar bem o meu corpo, minimizando-as.

Chegamos à casa. Era recuada e com amplo gramado na frente, em terreno elevado com uma linda vista do mar. Trocamos números de celular. Disse-lhe que iria falar com o meu ortopedista, saber a sua opinião sobre fazer ioga.

Conversei com o médico, amigo de muitos anos. Operou-me o joelho direito quando rompi o ligamento; tratou-me quando cai da moto e fraturei o acetábulo, ficando 20 dias de repouso. Enfim, sabia bem da minha história. Disse-me que seria bom, mas o reforço muscular, melhor.

Decidi fazer experimentalmente algumas sessões de ioga, ver como me sentiria, para depois fazer o reforço muscular na academia que minha mulher frequenta. Combinei de começar na semana seguinte, na terça-feira pela manhã.

No dia da 1ª aula, depois de ter nadado, entrei na casa pelo grande gramado encontrando-me com a professora, que montava o local da prática na varanda.

Começamos com o ritual de relaxamento, depois os exercícios de alongamentos e equilíbrio. Ao vermos as pessoas fazendo as posições com movimentos calmos e relaxados, achamos que é muito fácil e que qualquer um as faria sem nenhum problema. Ledo engano. Ao executar vários deles, vi como o meu corpo estava curto, as pernas, os braços, as costas, o tronco, enfim, parecendo ter travas nas juntas, nos tendões, nos músculos, não conseguindo fazer as posições que ela fazia com tanta leveza, fluidez e facilidade. Sentia-me encarquilhado e pensei: é a "droga" da idade.

E os de equilíbrio então! Um deles parecia ser muito simples e fácil. Era de pé, alinhando os pés no chão, um na frente do outro, mantendo o mesmo eixo entre eles, como se fosse andar em uma fita estreita. Une-se as mãos junto ao peito e joga-se o peso do corpo para o pé da frente, depois para o de trás, voltando para a posição alinhada e ereta do corpo, mantendo essas três posições por alguns segundos. Simples, não? Não consegui ficar em pé. Perdi o equilíbrio e quase cai no chão. Incrível!

A aula durou uma hora, deixando-me todo dolorido, mas me sentindo um pouco melhor. Gostei.

-Você quebrou o velhinho, hein? – disse-lhe brincando.

-A primeira aula é assim mesmo, mas foi bem. Daqui um mês, vai se sentir como um garotão, mais leve e alongado, vai ver só.

-Garotão? Não exagera.

-Sim, com certeza!

-Será? Espero que a idade não atrapalhe.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 19/03/2021
Reeditado em 21/03/2021
Código do texto: T7211136
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