O PRESENTE DAS CRIANÇAS PELADAS

As crianças estavam reunidas na sala de medicamentos, na expectativa da chegada de um grupo de atores voluntários que fariam aquela apresentação pela primeira vez para crianças portadoras de câncer. A diversão estava garantida com historinhas, músicas e muita gargalhada.

Pepeu foi o primeiro a receber medicação naquele dia. Ele dizia que seres do mundo invisível haviam invadido o seu corpo e que agora precisava combatê-los com aquela arma líquida, que gotejava raios poderosos em suas veias e que, apesar de ter lhe deixado careca, não lhe tirou a vontade de voltar a correr, jogar bola e andar de bicicleta com os seus amigos.

As crianças foram sendo trazidas uma a uma e colocadas em seus postos de batalha. A medicação, também chamada de arma líquida, trazia desconforto e sonolência, mas as crianças guerreiras tentavam driblá-la abraçando com muita força a abelhinha Mel, a doce mascote daquele grupo de combatentes.

Em minutos, a porta se abre e a sala é invadida por Papai Noel para todos os gostos, Mamãe Noel, renas, alguém fantasiado de Olaf e outro de caixa de presente. Todos trazendo balões coloridos e sorrisos brancos, previamente armados.

Quindim foi o primeiro a perceber a chegadas daqueles rostos diferentes dos que sempre apareciam por ali. Sacudindo sua mascote e falando baixinho chamou Janjão e Mariá, que estavam bem ao seu lado.

De repente, os passos silenciados pelas pantufas de feltro se paralisaram e os olhares entre voluntários e crianças cruzaram-se. Os olhos arregalados, de ambos os lados, tinham significados diferentes, porém emitiam todos os sentimentos de alegria, satisfação, aceitação, admiração e afeto, próprios daquele episódio.

Um Papai Noel e uma rena aproximaram-se e ajoelharam-se em frente a Quindim e Pepeu, mas sem conseguir pronunciar nenhuma palavra e com as lágrimas nascendo de suas almas, surpreenderam-se quando as crianças abriram os braços oferecendo-lhes conforto.

Janjão e Mariá fizeram sinal para que os outros se aproximassem e, um a um dos voluntários foi procurando o aconchego e o carinho de cada uma das crianças, que usavam a mascote Mel para ampliar o abraço e transformar aquele momento em um presente para a vida.

Barba, gorro vermelho, nariz de rena e outros adornos foram sendo descartados para dar lugar aos toques das mãos pequenas e quentinhas, que se preparavam para encenar histórias nascidas das cabeças peladas dos mais corajosos guerreiros.

“─ Era uma vez um poderoso guerreiro careca...”