Não Sou Mole Não!

13.03.2021

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Uma noite, há quarenta anos, estava treinando polo-aquático na piscina do clube, e durante o “racha”, jogo entre nós, todos me chamavam pelo meu sobrenome, não pelo meu nome, inclusive o técnico húngaro – eles são considerados os melhores do mundo, como nós no futebol. Depois do treino, no vestiário, um dos jogadores que estava começando conosco, e que eu conhecia de vista, me encontrou e perguntou:

-Você é filho do “Mole”?

-“Mole”?

-Sim, Meu pai conhece o seu pai dos tempos do remo no Clube Tietê. Falei com ele outro dia sobre seu nome peculiar, e ele me disse que remaram juntos, e que o apelido do seu pai era “Mole”.

O Clube de Regatas Tietê era muito tradicional e antigo na cidade de São Paulo. Fundado em 1907 pela elite portuguesa, ficava à beira do rio, junto à ponte das Bandeiras, e foi à falência em 2002. As principais atividades eram o remo, natação, tênis. Teve como sócios, Maria Lenk , Maria Ester Bueno e Airton Senna . A equipe de polo-aquático era forte, e a maioria dos seus jogadores migrou para o meu clube, e na época em que eu jogava, muitos deles atuavam no nosso time principal. Havia também, na outra margem do ri, em frente, o Clube Espéria, dos italianos, que se rivalizavam principalmente no remo. Meu pai era atleta do remo no Tietê naquela época.

-É mesmo? Não sabia desse apelido do meu pai. Mas meu nome não é esse que me chamam, é o meu sobrenome.

-Pois é “Mole”!

-Ehehe , vou virar “Mole” pra você então.

-Claro!

E assim fiquei com o mesmo apelido do meu pai para esse amigo do clube, que até hoje, ao nos encontrarmos diz: “E aí Mole, tudo bem?”

Naquele dia em que fiquei sabendo do peculiar apelido paterno, em casa, perguntei-lhe se era verdade:

-Oi Pai, tudo bem? Hoje no treino, um amigo me disse que seu apelido na época de jovem era “Mole”. É verdade?

-Ah é? Quem te disse? Qual o nome dele?

-O sobrenome dele é Ferro.

-Sim, o pai dele remou comigo lá no Tietê, sim. Naquela época remávamos e nadávamos no rio, era limpo e tinha muito peixe, acredite.

-Mas por que esse apelido, “Mole”?

-Era pelo meu jeito de andar. O pessoal da equipe do remo falava que eu andava cadenciado e molenga, com preguiça, e então começaram a me chamar de “molengão”, e acabou virando “Mole”.

-Ehehe, engraçado pai. E é verdade, pois seu jeito de andar é bem molenga mesmo.

-Pois é – respondeu rindo, meio sem graça.

E assim, soube que meu pai quando moço, era conhecido pelo seu “molenga” jeito de andar e acabei ficando também com essa alcunha com alguns amigos do clube, "Mole".

Como dizem: filho de peixe, peixinho é, mas meu andar não é molenga, e não sou Mole não!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 13/03/2021
Reeditado em 15/03/2021
Código do texto: T7206188
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