40 Anos de Obra
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Eram três: dois irmãos, Zezinho e Osmar, e um amigo, "Neguinho". Estavam executando a reforma que eu acompanhava na Serra da Mantiqueira Mineira, na divisa com nosso estado. Zezinho, o chefe e faz tudo: pedreiro, carpinteiro, eletricista; Osmar, demolição, pintura, carpintaria também, e "Neguinho" - o servente. Brincavam uns com os outros o dia todo. Qualquer assunto era motivo de risadas, gozação entre eles. Falavam daquela forma característica dos mineiros interioranos, comendo e juntando as palavras, engolindo, melhor dizendo: eu não entendia nada!
Iniciava os trabalhos com eles - foram indicados e exigidos pelo proprietário - trabalhavam sempre para ele, de sua total confiança. O caseiro do local, era irmão dos outros dois irmãos. Tudo em família! Preocupava-me essa ligação direta com o "dono", pois poderiam não aceitar minhas decisões ou tratar direto os assuntos com ele.
Os trabalhos seguiam enroscados em uma demolição inesperada, de estrutura em concreto armado, pilares principalmente, robustos e superdimensionados que encontramos embutidos nas paredes, atrasando o andamento previsto.
-"D'va praconstrui uprédionela, so!" - comentou "Zézin"
-Pois é, em quase quarenta anos de obra, nunca vi prédio tão reforçado como esse! - respondo.
-"Tempin né!"
-Sim, bastante!
-"O Neguin tumen tem carentano diobra, né Neguin?" -replica Osmar, o mais brincalhão deles, com um sorriso maroto no rosto, olhando-me.
-É mesmo! Puxa vida bastante tempo também, parabéns! - digo-lhe, com intuito de descontraí-lo: era de pouca ou nenhuma palavra.
-"Quarentanod'obra i nun saiu dissonão, so! Nun meiora mais não, tem tempomais né! " - diz '"Zézin", rindo junto com o irmão. "Neguinho" ri fraco. Eu vejo que usaram meu "gancho" para me gozarem também; sorrio amarelo...
Os trabalhos continuaram e tempos depois ocorreu um problema de marcação de uma base, já pronta para ser concretada, com diferenças de medidas e indefinições de projeto.
-Vamos ter que remarcar essa base - falo com Zezinho e para os outros dois. Eles me olham e se entreolham com aquele olhar de zombaria e gozação, eu percebo e antes de qualquer "graça" deles, retruco:
-Pois é, quarenta anos de obra, acontece né... - rindo para eles, que também gargalham.
-" P'lomeno o sinhô si formo né!" - me fala Osmar olhando para "Neguinho". Rimos gostosamente os quatro.
Esse fato nos aproximou, descontraiu o ambiente e fez com que os trabalhos seguissem de uma forma mais interativa e "desestressada".
Depois disso, qualquer probleminha que aparecia, vinha...."quarenta anos de obra, é?"
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