A Professora
Quando entrou na sala de aula havia uma nova professora. Jovem e sorridente, ia acolhendo todos, saudando-os um a um, fazendo-os sentir que eram especiais e gente de toda a confiança. Perguntava e dizia o seu nome, deixava que se sentassem onde quisessem. Depois, escreveu uma frase no quadro, sentença retirada de uma Faculdade da África do Sul, que não referia o nome do autor. Enquanto escrevia, jogaram-lhe lápis, borrachas, papéis amarrotados e riam-se alto, anunciando o modo como entendiam o ensino e anunciavam o que ela poderia esperar daquela turma. Quando se voltou e puderam ler o que acabava de ser escrito fez-se um silêncio profundo, pararam as brincadeiras dos que esperavam progredir com batota, dos que ao fundo, na última fila, achavam furtar-se ao olhar da mestra e a aula começou sem que a professora aludisse à frase que permanecia como um aviso, uma chamada de atenção, um tema para meditar, um dever a cumprir. Estamos aqui para trabalhar, para aprender, disse. Os que vieram para brincar, desviar a atenção de quem quer seguir a aula ou os que acham já saber tudo, podem sair. De novo o silêncio pesado, o calar dos sussurros, o renovar do cuidado. – Parecia tão frágil e é poderosa, pensou Daniel desistindo da brincadeira. Alguns copiaram a frase do quadro para os cadernos, outros releram-na para a fixar. Antes de terminar a apresentação a nova professora apontou o quadro e leu o que já todos sabiam: - Não merecem respeito os que se graduam a copiar, os que usam cábulas, os que defraudam as regras. Eles são os responsáveis pelas pontes que caem, por muitos dos doentes que morrem, pela má qualidade do trabalho que, como doutores ou engenheiros, músicos ou atletas, lhes cabia fazer bem. A Nação rejeita estas pessoas por inúteis e espera que voltem ao início de seus estudos para, por fim, aprender.