Ti Mato!
08.03.2021
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Estavam todos na cozinha junto ao fogão à lenha, com o chão de terra batida e teto baixo: um ambiente abafado e quente.
Ela destrinchava um frango com uma machadinha, preparando-o para o almoço. Faria com polenta, pois família grande, mangiare molto.
Olhava para o panelão com os olhos parados, longe, com a água fervente para despejar a farinha de milho. O frango faria com molho de tomates frescos. Eram ela e seus oito filhos ali naquele cômodo mal arejado.
As algazarras das brincadeiras das crianças ecoavam fortes pela cozinha, zoavam e a incomodavam, impedindo-a de se concentrar. Era um que segurava na sua saia, outro que berrava ao seu lado, outros correndo em volta do fogão. Gritarias, choros, rizadas. As oito crianças eram ativas e impetuosas, como todas as crianças são.
Pensava, enquanto cortava as asas, as coxas e o pescoço da ave, com vigor sobre a madeira da mesa: maledetto cuidando do armazém tranquillamente . Io qui com questo ragazzi, mi deixa paza, paza!
Era sobre o seu marido, que cuidava de um armazém, armarinho melhor definindo e do seu sogro, estabelecido em uma fazenda perto da sua casa, onde se vendia de farinha a sapatos, gasolina, tecidos, de tudo. Assim era naquela época, inicio do século passado.
Ela grita para pararem; eles continuam como se não a escutassem; crianças.
–Para questo pasticcio, porca miséria! – berra ela histérica em italiano aportuguesado.
Nada. A algazarra continua, fazendo-a perder a paciência. Irrita-se de tal forma, e totalmente sem controle, solta um berro raivoso e forte arremessando a machadinha que estava usando no corte do frango, na direção ao grupo das crianças, atingindo o meu pai no cotovelo, que cai no chão desacordado pelo choque.
- Disgraziatos, disgraziatos - grita descontrolada para os filhos, que fogem um para cada lado em debandada.
Nesse exato momento, chega o marido e vê a cena acontecendo: o filho no chão desacordado, com a mulher tomada pela ira, berrando intensamente. Os outros, escondidos atrás das cadeiras, armários, mesas, com medo de serem alvejados também.
Vai até o caído e tenta reanimá-lo. Virasse e caminha até ela, e lhe diz face a face, encarando-a nos olhos fixamente:
-Si muore, ti mato! – fala com os dentes cerrados.
Pega ele o vidro de vinagre e faz o menino cheirar, que vai recobrando os sentidos vagarosamente. O consola e o reanima, pegando-o no colo levando-o para o seu quarto. Ela se acalma e segue preparando o almoço, quieta. As outras crianças assustadas, vão saindo da cozinha acompanhando o irmão carregado em procissão.
Eram minha avó e meu avô paterno, os protagonistas desse evento típico de uma famiglia di carcamano, que meu pai me contava algumas vezes sobre a personalidade dos seus pais. Inesquecível.
Mangia chi te fa benne.
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