Desejos com champanhe

O local era frequentado pela nata da sociedade paulistana, com todas aquelas iguarias gastronômicas requintadas que o dinheiro podia comprar.

O luxo e as gentilezas estavam por toda parte, afinal aquele era um ambiente seleto e todas as pessoas ali mereciam o melhor tratamento possível.

Quando Gisela, uma mulher jovem, de corpo delgado e longos cabelos louros e ondulados, que lhe passavam dos ombros, chegou ao refinado restaurante na companhia do marido, um homem baixo, dos seus sessenta anos de idade e com uma barba branca bem aparada, o casal tomou lugar na mesa já reservada, pediram uma garrafa de champanhe e logo ergueram um brinde a mais um negócio bem-sucedido do marido, que atuava no ramo da indústria esportiva.

– Um brinde ao seu sucesso, querido.

– Não, Gisela, um brinde ao nosso sucesso. Tim-tim.

A certa altura do jantar, em que os dois pouco conversavam, Gisela teve a sua atenção voltada para um casal que jantava a alguns poucos metros de sua mesa.

“Que mulher sem-vergonha, meu Deus! Olha lá, a sirigaita não tira os olhos de cima do meu marido. Ah, se eu não fosse uma mulher muito educada, iria agora mesmo dar uns tapas na cara dessa piranha. Quem essa sujeitinha pensa que é para ficar cobiçando o marido das outras, quem?” Absorvida por estes pensamentos de raiva e indignação, a mulher nem notara que o marido estava entediado ao petiscar sua lagosta.

O casal que chamara a atenção de Gisela oferecia um contraste interessante, ao contrário deles, o rapaz era jovem e sorridente, enquanto a mulher era mais madura, porém, bela, com insinuantes olhos castanhos e cabelos da mesma cor, num tom mais escuro. Duas mulheres lindas e dois homens um tanto desinteressados delas.

Ora, de fato a mulher madura, mais nem por isso amadurecida, não tirava os olhos da mesa de Gisela: “Nossa, que mulher linda! Se eu pego essa tesuda, faço questão de usar todos os meus brinquedinhos eróticos nela. Vem pra cama com a mamãe aqui, gostosa! Comigo você saberá o que é amor de verdade” e soltou um suspiro enquanto sua mente viajava pelo corpo de Gisela sem pronunciar palavras.

– Por que você olha tanto para aquela mesa, Débora? – perguntou, cheio de curiosidade, o elegante rapaz que a acompanhava, e emendou:

– Desse jeito vai acabar chamando a atenção deles, se é que já não chamou.

– Perdão, meu amor, é que achei o penteado da moça muito bonito.

O moço deu uma discreta olhada na direção da mesa de Gisela e do marido, e não pôde deixar de pensar: “Hum, aquele coroa também não é de se jogar fora. Ah, se isso não desagradasse profundamente aos meus pais, eu largaria esta velha chata e insossa agora mesmo.”

O marido de Gisela estava realmente aborrecido e só pensava no quanto aquela porcaria de jantar iria lhe custar dessa vez, já que a esposa fizera questão de pedir o que tinha de mais caro no cardápio. De origem humilde, o homem na verdade não gostava dessas frescuras de restaurante chique, todavia, precisava manter as aparências para não ser discriminado por seus amigos da alta sociedade.

Passada a raiva do primeiro momento, Gisela finalmente percebeu o que era evidente: na posição em que aquela bela mulher se encontrava em relação à sua mesa, não poderia de fato estar olhando diretamente para o seu marido. “Ei, ela tá olhando pra mim! Me comendo com os olhos e me achando atraente.” Aquela constatação surpreendeu e desarmou uma garbosa Gisela, pois nunca em sua vida havia se percebido antes desejada por uma mulher.

Neste instante as duas mulheres trocaram significativos olhares e logo pediram licença a seus acompanhantes, marido e namorado, e ambas se encaminharam para o toalete.

– Não, Débora, isso é loucura! E se nos pegarem? E se… A mulher madura colocou o dedo indicador delicadamente sobre a boca de Gisela e falou num tom de voz baixinho:

– Fique quietinha, meu bem. Confie em mim, ninguém vai nos pegar. Se você não quiser, tudo bem, eu respeito, mas não permita que o medo te impeça de experimentar algo maravilhoso. Em seguida Débora acariciou os seios de Gisela ainda cobertos pelo vestido.

O que aconteceu depois foi que…

Saio desta história exatamente neste ponto, para que a imaginação, sempre atiçada pelos desejos, cumpra o seu papel.