A Cobra-Perereca

07/03/2021

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-Tem uma cobra embaixo da casinha das nossas tralhas. Acabei de ouvir o guizo dela. – disse a minha mulher impositiva caminhando em minha direção, sentado na varanda do chalé.

Fizemos no ano passado, embaixo da estrutura de madeira que sustenta a caixa d’água do imóvel, um quarto de tábuas de madeira também, para colocar ferramentas, coisas usadas e todo tipo de tralha que não temos onde colocar em casa. Também, ao lado do “cubo mágico”, como o apelidei, ela fez uma horta com bananeiras, mamoeiros, verduras, pés de pimenta e demais folhagens. Uma das bananeiras está com quase quatro metros de altura, sem nenhum cacho até agora. Os mamoeiros com os seus dois e meio metros de estatura, cheios de flores que virarão mamões. Parece uma parte da Mata Atlântica o nosso canteiro, como brinco. A construção do quarto ficou acima do solo, gerando um estreito vão entre o piso e o terreno, no qual se entoca normalmente um dos gatos, o Malhadinho, resguardando-se do sol implacável, nos dias de calor.

-Cobra? – questionei incrédulo.

-Sim! Eu conheço o barulho de cobra. Mexi ali nas roseiras e ouvi o som de um guizo de cobra.

-Olha, acho difícil. Vi outro dia um lagarto passeando por sua horta, que mais parece uma mata tropical. Não pode ser ele?

-É cobra sim, com certeza. Eu conheço o seu chocalho!

-Tá bom. Então tem uma cobra agora aqui na nossa selva, junto com os gatos e o lagarto. Só falta aparecer uma onça – respondi rindo. Ela não gostou muito.

-Vou ligar para os bombeiros e ver como faço.

Ligou e recebeu uma resposta decepcionante: que desentocasse a víbora que eles a buscariam.

-Incrível a falta de assistência. Tem cabimento essa resposta? Inacreditável!

-Pois é – respondi.

-E se ela estiver chocando os seus ovos e nascerem filhotes? Já viu ninho de cobra? É um monte de cobrinhas pululando, enroscadas umas nas outras, um nojo. Não sou medrosa, mas não gosto de cobra.

-Nem eu!

Dias depois, vi embaixo do quartinho o gato deitado no vão junto ao terreno, cochilando tranquilamente.

-Querida, vem ver o gato dormindo no ninho da cobra!

Ela veio praguejando:

-Vai brincando. Vai que ela morde o teu gato!

-Mas se ele está tranquilo ali, não deve ter cobra ou lagarto, concorda? Ele não iria ficar de cobaia para ser mordido, não é mesmo?

Na semana seguinte, o assunto já estava meio que esquecido. Uma noite, ela me diz no jantar:

- Hoje eu vi uma perereca lá na horta, verdinha, quase uma rã.

-Então a cobra é uma perereca? – brinquei. Ela não respondeu.

-Querida, não tem cobra lá não. Se tivesse, o gato não dormiria lá e não teria a perereca, a cobra e o lagarto a comeriam concorda?

Ficou quieta na mesa, pensando no que eu dissera, não concordando muito, mas aceitando, pois a lógica do raciocínio era razoável.

-É, pode ser. Mas tinha certeza que o barulho era de cobra, nada de perereca.

-Quem sabe você se confundiu querida. Vamos dizer que era uma cobra-perereca. Ela riu insossa.

No dia seguinte, mexi na terra da “selva” e vi a perereca pululando em fuga. Será que a cobra virou perereca?

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 07/03/2021
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