As Águas de Março

03/03/2021

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Dizem os antigos marinheiros, que quando as fragatas voam em baixa altitude, chuva forte virá. Não as vi nesses últimos dias ininterruptos de aguaceiros caudalosos que caiu aqui onde moro. É normal ter o clima instável assim nessa época do ano, final do verão. São as “águas de março”.

Durou cerca de quatro dias a queda incessante de água, mantendo-nos em casa sem qualquer condição de sair, dando-nos uma trégua depois, mas mantendo o céu carrancudo e cinzento, de chuva.

Nesse dia de pequena estiagem, vi da varanda da minha casa uma fragata voando baixo, com suas largas asas em “v”, graciosa no seu planar calmo e tranquilo de longas curvas no céu. Estava sozinha.

Acompanhei-a por um tempo, ela com sua grande envergadura, ascendia altura sem qualquer esforço, não ultrapassando as nuvens baixas, escuras e compactas, densas de água acumulada que logo desabaria sobre nós.

-Vem mais chuva, com certeza. A fragata está voando baixo – pensei comigo vendo-a sumir no horizonte.

Aguardei um tempo sentado no terraço, observando que o céu ia moldando seus novelos de nuvens em várias tonalidades de cinza, do claro ao chumbo forte, onde, na linha do horizonte, juntavam-se com o mar da mesma cor, emitindo os relâmpagos, clarões com seus estrondos atrasados prenunciando o temporal. O dia virou noite.

A chuva iniciou fraca, com o som seco e espaçado dos pingos tocando a grama, as folhas, os telhados, aumentando depois de intensidade e força, junto com o forte zunir do vento, transformando-se em um verdadeiro rio caudaloso derramado do céu, com as enxurradas de aguas barrentas lavando tudo. As “águas de março” caíam incessante e impiedosamente. A natureza expressando-se na beleza da força bruta e indomável da chuva.

No dia seguinte, depois de chover a noite toda, amanheceu com nuvens ainda escuras, mas com algumas aberturas, por onde feixes da luz do sol nascente iluminavam-nas, tingindo-as de rosa, vermelho e amarelo ouro em contraste com o mar cinzento. Um alvorecer que parecia ser novamente de chuva. Talvez, mas uma bela visão límpida e pura.

Procurei fragatas no alto; não planavam. Talvez não acordassem, por encharcadas que ficaram pelos últimos dias molhados, secavam-se com o pouco sol que nascia no horizonte. Talvez.

Aproveitei a trégua e fui nadar em uma praia próxima, onde o mar é tranquilo, de pouca arrebentação. Entrei na água cálida, aproveitando a gostosa sensação de ser envolvido pela tépida e volumosa massa líquida, acariciando-me delicadamente. Deliciosa sensação.

Virei-me de costas, mudando o nado e olhando o céu, e percebi, flanando baixo bem a minha frente, uma fragata em voo solo.

-Mais chuva virá? Já não chega quatro dias seguidos de aguaceiro? Não é o suficiente? – conversei mudo com ela, que indiferente, seguia às nuvens de chuva no horizonte.

Terminei de nadar, voltando para casa. A chuva viria novamente, pelo modelar caraterístico das nuvens escuras, carregadas e pesadas. Tinha razão, os antigos marinheiros, as “águas de março” chegavam anunciadas pelas fragatas.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 04/03/2021
Código do texto: T7198317
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