A Vela
A vela de Natal
Elisabeth
Hoje ouvi um termo pelo Skype que me levou ao passado. Não sem antes me mostrar que a nossa Língua muda muito, mas, há palavras, frases e gírias que demoram para sair do vocabulário popular. E segurar vela é uma delas!
Segurar vela é uma tarefa milenar, dizem alguns. Os pseudos-historiadores remontam a função ‘Lumiere’ da época que não havia luzes elétricas e as velas eram usadas para todas as funções noturnas. Segundo eles, haviam criados que tinha a função específica de serem os candelabros da vez, mesmo na ‘hora H’ dos patrões… Medinho define. Mas, voltemos ao Marcos e sua falta de imaginação - afinal até eu que sou quase cinquentona sei que existe aplicativos que exercem a mesma função, sem que a gente precise ficar vendo ou ouvindo beijinhos e juras de amor...
O Marcos falou com os amigos, que ele estava segurando vela até por via digital. E eu, como já “ventilei”, voltei à infância…
O ano era 1974, eu tinha três anos. Quase quatro. Certo é que uma de minhas tias estava namorando e minha avó teve que sair da sala. Olha para um lado, olha para o outro, quem poderia ficar na sala com o casalzinho? Ninguém… Ou melhor, a netinha que estava brincando debaixo da mesa, na copa.
A avó sorrindo, virou-se para mim e disse:
- Pequena, vai lá para a sala “fazer vela” para sua tia.
Eu saí de debaixo da mesa, tranquei a porta do porta-toalhas e fui buscar no armário de Natal uma vela para segurar na sala.
Era enorme, vermelha. Achei e voltei para a cozinha. Nada de minha avó, passei para a copa, nada dela, olhei no quarto e desisti. Fui para a sala, olhei para a tia e pedi:
- “Liga”! - A tia soltou o abraço e virou-se para mim, para saber por qual motivo eu estava com uma das velas de Natal - que nunca eram usadas, exceto para efeito decorativo. Era linda, toda trabalhada, eu era apaixonada pela vela, como já falei.
Ela não entendeu e perguntou para que eu queria a vela acesa, estava claro, não era hora de dormir, estas perguntas que adultos fazem quando querem resolver logo a questão com a criança, para depois voltar ao que estava fazendo. Eu respondi:
- Vovó mandou.
O namorado dela começou rir, titia não entendeu nada e perguntou-lhe o motivo da graça e ele respondeu: “Pergunte-lhe o que sua mãe mandou ela vir fazer na sala”.
E eu nem esperei a pergunta, respondi “na lata”.
- Segurar vela, uai!
Titia riu muito e disse que era só para segurar, que a vela acesa era perigosa. Sentei-me com minha vela enorme na poltrona, as perninhas longe do chão, os olhos postos na vela apagada e eles ficaram lá “no amasso”, sob a proteção de Deus, porque eu mesma estava muito ocupada, como uma menina bem mandada, atenta, segurando a vela…
Texto de 2014
Série Rua Dr Pedro Batista