RETRATO CRUEL
Julho de 2019. O frio era intenso; o vento, furioso, açoitava corpos; a chuva caia torrencialmente. Pedestres buscavam abrigo embaixo de viadutos, pontes e marquises.
Alguns jovens brincavam no meio da rua. A maioria ria e falava com espontaneidade; três exibiam olhares vagos e distantes. Seus rostos não expressavam sequer uma reação. Preocupada, chamei-os:
– Vocês, cheguem-se a nós!
Com passos lentos, aproximaram-se.
– Senhora, fique tranquila. Faça sol ou chuva, a nós não faz diferença. Estamos acostumados com os males da vida. À capital viemos atrás de oportunidades e de sucesso; porém, ao terminar a grana, que trouxemos, as drogas roubaram-nos os sonhos e a alegria de viver. Somos, hoje, os excluídos e desprezados pela sociedade.
Lágrimas e chuva, palco de dolorosas sensações.