Bolacha com Coca Cola

15/02/2021

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A fome me bateu no meio da tarde. Estava sozinho em casa. Minha mulher viajara para ver a sua filha e a neta - há quase um mês não a via, bateu-lhe saudades da pequenina, que é uma graça. Eu, em casa meio que perdido. É interessante essa sensação, pois quando juntos, ficamos “rabugindo” um com o outro por pequenas e bobas coisas, pirraças. Envelhecer tem seus segredos...

Vi o pote de bolachas sobre a mesa, peguei-o. Na geladeira, uma garrafa de Coca Cola, peguei-a. No freezer, peguei o copo com gelo de limão em rodelas, que deixo no congelador após tomar o refrigerante, para sempre bebê-lo gelado e aromatizado, uma das minhas manias...

Coloquei no copo enregelado o liquido negro borbulhante e viciante, com o seu chiado fino de bolhas de gás estourando como sal de frutas, e com o pote de bolachas, fui até a varanda da casa, onde a chuva de verão da tarde começava a cair, refrescando o dia quente que fora até aquele momento.

Sentei-me na cadeira vendo os pingos batendo nas folhas das plantas e na grama, exalando o cheiro caraterístico de terra molhada e fresca. O vento, ainda fraco e úmido, refrescava o ambiente. Ao fundo, ouvia-se o quebrar das ondas na praia. No céu, o cinzento das nuvens chuvosas caminhava para engolfar o azul límpido, que ainda resistia.

Com esse espetáculo vivo a minha frente, abri institivamente o pote de bolachas, onde depositara dias atrás um pacote de “agua e sal”. Peguei uma colocando-a por inteiro na boca. Seu gosto despertou-me a lembrança da época em que íamos passar as férias de verão no Guarujá, em São Paulo. Meu pai alugava um apartamento por um mês, geralmente no mesmo prédio, de frente ao mar e com sacada, onde se descortinava a enorme visão do oceano e da longa praia, para a minha alegria e deleite.

Tinha treze anos e minha irmã dezessete. Ela sempre com as suas amigas no apartamento. Festeiras, com falas e risadas altas, fofocavam sobre os rapazes que as paqueravam, do que acontecia nos passeios ao cair da tarde até a sorveteria no “centrinho”- ponto de encontro dos jovens, ou na saída da sessão das seis do cinema. Às vezes, ela dormia na casa de uma delas, e vice versa. O apartamento era sempre movimentado por sua causa. Uma festa mesmo ela fazia.

Eu ficava na varanda no meio da tarde, vendo o mar, as ondas, com os meninos jogando bola na areia em frente ao edifício e surfando – um sonho não realizado, pois meu pai não queria que eu fosse à praia sozinho, por ser muito arteiro. Ia com a minha mãe e irmã pela manhã. Ele passava a semana na cidade de São Paulo trabalhando, vindo sexta feira à tarde nos encontrar.

Lembro-me bem daqueles momentos na sacada do prédio, comendo as bolachas com Coca Cola como agora fazia. Comia-as uma a uma devagar, deixando-as amolecer na boca, mastigando-as depois com goles do refrigerante em garrafa de vidro. Uma delícia era esse ritual, demorado e gostoso.

Ficava divagando com o olhar longe, bebendo devagar, sentindo o seu gosto doce e frisante borbulhando na boca junto com o salgado do biscoito, até que minha irmã chegava com as amigas barulhentas, irrompendo suas conversas e risadas pelo ambiente, tirando-me daquele devaneio.

Agora, sentando na varanda da minha casa, com o cair da chuva fraca e fina, vendo ao longe o eterno oceano a minha frente, ia degustando com vagar e prazer minhas reminiscências, avivadas pelas bolachas com Coca Cola, como naquele verão da minha adolescência.

Na vida, temos pequenos e simples momentos que são inesquecíveis.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 16/02/2021
Reeditado em 16/02/2021
Código do texto: T7185888
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