Tempo hein?

10.12.2018

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Vamos completar quarenta anos de formados. Nossa turma de engenharia, a maioria Civil, caminha para essa marca no ano que vem..

Resolvemos fazer um evento para comemorar a data significativa (todas as nossas datas agora são expressivas).

Estávamos em seis engenheiros quarentões, em nosso "boteco" de comemoração que frequentamos há trinta e cinco anos. Era um sábado em encontro de fim de ano, saboreando a nossa feijoada natalina - "feijuca" como a chamamos.

A cerveja corria solta, mas cada um tinha a sua bebida preferida: um só bebia vodca pura; outro levara garrafa de uísque "blue", estando todos já bem "calibrados": um "rega-bofe" dos bons. Eu estava sóbrio - (não bebo mais há um ano e meio), quando coloquei o assunto em pauta na mesa:

-Pessoal, ano que vem vamos fazer quarenta anos de formados. Temos que comemorar!

-Sim, claro que temos que comemorar. Demos um duro danado para sair de lá, certo! - respondeu um deles.

-O que vamos fazer? - perguntou outro.

-Pensei em um churrasco em um sítio. Que acham? - falei.

-Alguém tem sítio aqui? - outro perguntou.

-Eu tenho, quer dizer, do meu primo né - falou o da vodca, com a voz pastosa, enrolada.

-Qual a data? Vamos marcar já! - disse outro.

-Caramba, vai ser daqui a um ano! A turma vai esquecer , os "Alzheimer". - respondeu alguém.

-Vamos marcar hoje e colocar no nosso grupo do zap, pelo menos já ficamos combinados - olhava um deles no calendário do seu celular.

-Dezesseis de novembro do ano que vem, pode ser? - completa.

-Boaaaa, viva nossos quarenta anos de engenheiros - a mesa gritou.

Eu levantei com o meu copo de cerveja sem álcool e gritei meu brinde caraterístico nestes anos todos:

-"Saluti e filhe masculi! Prostituta la família! Dominus, cominiiiis! Aaaaméeeem!" - falei no meu macarrônico dialeto ítalo-brasileiro, jogando com a ponta dos dedos cerveja do meu copo em todos ,como que os benzendo, que de pé também, batiam os copos em um brinde, .

As mesas ao lado riam dos velhinhos animadinhos e "breacos". Nós também da nossa felicidade de estarmos juntos há quarenta anos. Tempo, muito tempo mesmo.

O que definiu a data, falou:

-Teve agora a festa da turma de 78 (um ano antes da nossa) e eu fui: foi muito ruim, a bebida e comida ruins, local meia boca. E o pessoal, dá pena, a maioria cabeça branca ou careca, gordos na maioria, óculos então, quase todos, e se cruzasse com um deles na rua, não reconheceria! Nós estamos bem, muito melhor que eles. Estamos bem conservados!

-Precisa me ver pelado então! - brinquei com ele. A mesa uivou, assobiou, jogaram bolinhas de papel em mim. Era risada geral.

-Temos dia e local; agora falta quem vai fazer o churrasco, comprar as carnes e bebidas! - continuou o da data.

-O "boca", faz! - sugeri. Ele tem esse apelido pela sua grande boca e sorriso, que sempre apresenta quando cumprimenta alguém. Uma bela e grande boca!

-Boca, boca, bocaaaa! - gritava a mesa.

-Agora a carne e as bebidas você vai cuidar! - dirigiu-se pra mim o da data.

-Isso, boa, vai cuidar do mais importante! - era o comentário de todos sentados.

-Mas eu moro em Floripa! - tentava fugir da tarefa.

-Melhor ainda! Tá perto do sul e sua espoa é de lá´, do Rio Grande "tchê", pode muito bem dar um pulinho lá e trazer as carnes, umas picanhas, bife de tira, mas "bah tchê"! - retrucou outro que até então estava quieto. A risada foi de todos, com vontade e minha também, afinal, não é sempre que se comemora quarenta anos de formados. É muito tempo mesmo!

Ficamos assim combinados na mesa do nosso bar de trinta cinco anos de frequência, todos já bem bebidos, menos eu. Veremos se irá se confirmar o evento, muito tempo a passar ainda e coisas a acontecer, pois em conversa de boteco, tudo fica certo na hora, mas depois, ninguém se lembra de mais nada, ainda mais uma turma de sexagenários ou "sexo-genários" como disse um de nós, bêbados, apesar do nosso grupo no zap registrar tudo, mas com tanto tempo de antecedência, difícil será a lembrança.

São as consequências de se ter quarenta anos de formados. É tempo hein!

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