Sob os fragmentos d'um tempo
A luz do sol que invadia o quarto através da velha janela, ainda em madeira, se aproximava cada vez mais de seus pés. Sua perna direita funcionava como um metrônomo, marcando o tempo que cada vez mais aumentava. Estava nervoso.
Passara horas ali, com seu olhar incisivo sob as folhas que, até o momento, ainda se encontravam vazias. Fizera apenas duas ou três pausas para fumar alguns cigarros, tragados com cada vez mais angústia, ele repetia o processo: inalava com esperança e exalava em totalidade melancólica.
Voltava a se arrumar sobre a cadeira, com seus pés jogados aos ares, desconfortávelmente, sob a mesa. Se deixava hipnotizar pelo balançar das árvores, lá fora. Aos poucos o bater de sua perna se adequava ao ritmo das árvores, de um lado para o outro, calmamente, até que subitamente parava.
Fora resgatado em sensações passadas, acolhido nos vagos fragmentos de suas memórias. Sentia o que já sentira, apenas. O tempo não importava mais. Já não piscava e, mesmo fortemente impedido por seus músculos cansados e anestesiados, um sorriso tímido tomou conta de seu rosto.
Ele sentia. "Sim! É isso!", ecoava em sua cabeça. Levou sua mão sob o lápis e o pegou firmemente, as marcas de mordidas que ao longo do dia foram acumuladas ao seu entorno, criaram um encaixe perfeito aos seus dedos, notou isso, mas evitou que esse pensamento entrasse em sua mente. Agora ele sentia, e nada era mais importante que sentir. Com um deslizar suave de mão, escreveu:
De tudo que sinto, somente o vazio me entende
É natural, como o vento
É o que traz, mas leva de repente
Não subtrai, tampouco soma
Apenas, ele.
Parou.