Efigênia

Efigênia chegava ao fim do dia satisfeita. A casa limpa, o quintal varrido, as roupas secando no varal. O jantar seria servido as oito horas como sempre. O marido e os filhos chegaram e foram logo jantando, cada um tinha algo muito importante a fazer. Ela foi para a cozinha, lavou e secou a louça. Ao terminar ficou admirando a beleza da bateria de panelas bem ariadas. Todas as visitas admiravam o capricho da dona da casa. Outro dia mesmo teve um ímpeto de ariar um copo de alumínio até que ficasse espelhado.

O marido vivia elogiando a dedicação de Efigênia à casa. Para ele não havia quem cozinhasse melhor que a esposa. Era um orgulho só quando levava os amigos para o almoço de domingo.

Os presentes de Efigênia eram todos relacionados a utensílios domésticos. No último natal ganhou uma panela de pressão, no aniversário um aspirador de pó e no dia das mães uma linda e eficiente batedeira.

Mas houve um dia que Efigênia olhou para as mãos e observou que estavam ásperas e secas. As unhas todas quebradiças. Correu ao espelho e viu uma pele ressecada. Cheirou as mãos e sentiu o aroma de alho. Pensou então em cuidar mais de si. No entanto, continuaria se dedicando com amor aos afazeres domésticos, poderia conciliar as duas coisas. No sábado pediu ao marido que olhasse a fornada de broa que estava assando. Correu a manicure e ao voltar exibiu as ao marido que elogiou a beleza delas.

Enfim, tudo mudou, agora Efigênia era bem mais vaidosa, e dormia com máscara de beleza no rosto. O marido notou uma grande diferença na face da esposa. Também comprou roupas novas, e as amigas notaram a diferença até mesmo no humor de dona Efigênia.

Naquela segunda resolveu ir às compras sem muita preocupação com o visual. Seria aniversário da filha e pretendia fazer o bolo mais delicioso de todos. Saiu apressada, mas a caminho notou os olhares todos em direção a ela. A princípio olhou a roupa que vestia e teve medo que estivessem sujas ou amarrotadas, mas nada disso, tudo impecável. Continuou e viu outros olhares dirigidos a ela e então veio a sua mente o quanto sua pele estava radiante. Ficou maravilhada com o resultado e passou a sorrir para todos que fixavam os olhos nela. Sentiu-se agradecida por estar tão bem consigo mesma.

Foi a feira escolheu batatas e tomates. E os olhos de todos continuavam fixos nela e houve até aqueles que arregalavam os olhos. Começou a cumprimentar todos que passavam por ela. Viu uma conhecida que abriu a boca e não teve palavras para elogiá-la.

Chegou em casa. Levou as frutas e verduras para a cozinha e o marido entrou pela porta da sala, havia esquecido o celular. Efigênia virou se para ele com o mais belo sorriso, até que o marido exclamou: – Efigênia você foi a rua assim?

– Assim como? Perguntou a esposa.

– Veja no espelho.

– Efigênia pegou sua caçarola brilhante como um espelho e se assustou. Havia esquecido de retirar a máscara de abacate.

Kelle Marinho
Enviado por Kelle Marinho em 13/02/2021
Reeditado em 13/02/2021
Código do texto: T7183551
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