Bolinha 8

Largado na cama, graças ao cansaço cósmico oriundo de um trabalho cheio de labirintos burocráticos, de cueca. Às escuras, olho pro teto, mergulhado em conversa com meus pensamentos como se fossem filósofos de café. Meus olhos descem do teto a um objeto que me chama a atenção. Uma bolinha amarela. Uma bolinha de sinuca. Sobre a mesa de escrever, bem inerte. O foco se volta à bolinha. Todos os ângulos sobre ela. O resto em desfoco. Eu, um homem de cueca, me contraceno com a bolinha. Um diálogo aparente a aflorar. One. O nome da bolinha. Entre muitos livros e objetos que poderiam deixar a bolinha escondida. Ela em evidência, sem chances para ostracismo. Talvez pela cor que se assemelhe ao sol. Não, a cor da bolinha é sol. Uns tempos atrás, numa cidade, exatamente uma vila dos pescadores por vários barcos espalhados por todos os lados da área marítima. Eu, um adolescente ingênuo, mas extremamente sensível e esperto apenas com o que me interessa quando aparece ao meu redor. Em companhia de meus parentes, ou melhor, meus primos, indo a um bar humilde e rico graças às raízes de arquitetura brasileira. Havia uma mesa. Para mim, uma mesa estranha, mas instigadora. Havia bolinhas na superfície da mesa esverdeada que lembra jardim recém-tosado. Para mim, bolinhas coloridas e hipnotizantes, mas metiam medo por não ter qualquer ideia do que elas representavam ou eram. Havia tacos pendurados à parede mofada e rusgada, cuja parte da fachada interna mantinha o ambiente prazeroso. Para mim, como aquelas lanças ou algo do gênero, pois tinha assistido a um filme da Disney em que o robô havia derrotado por um guerreiro medieval com tendências de corrupção querendo tomar o trono do Rei Arthur, partindo cada parte do corpo híbrido como a cabeça e o braço esquerdo. Para eles, essa mesa era a atração da cidade entediante. Aquelas bolinhas possuíam seus próprios pontos. A bolinha 8 garantiria 16 pontos. O diálogo está indo bem. Meus olhos nesta bolinha amarela. Seus olhos, ou melhor, o número inscrito em mim. Eu e a 1, a sós na volta dos objetos silenciosos sob o comando da escuridão. Um diálogo sem palavras e expressões não verbais. Sem diálogo funciona, sim, por meio de diversas alternativas de interação. Basta estudar o comportamento da bolinha amarela a ponto de definir o tipo de comunicação. Somos invisíveis em nossos sucessos. Tu, por ser parte daquela mesa, mas não só disso, já que serve para outras finalidades, como companhia de reflexões. Eu, por uma persona não audição exótica. Somos barulhos rasgando o pensar dentro da caixa da sociedade. Somos consequências bacanas ao andar repetitivo desse mundo. Somos chatos para a apatia de certos corações ausentes. Ei, tu vai batê a 8 para matar o jogo, beleza? Meu primo apontava para o caminho mais fácil. Enfiei a bola no buraco e senti umas vibrações parecidas com as de um objeto pesado caindo no chão.

Diogo Madeira - dia 10/02/2021

Diogo Madeira
Enviado por Diogo Madeira em 10/02/2021
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