Zé versus Zé (crônica de um jogo)

Naquele ano de 1965, a terceira série do Ginásio e Escola Normal Estadual de Pitangui, o GENEP, tinha a metade do time do Zé Emídio. Como a metade de onze dá número quebrado, digamos que fosse a metade mais um tiquinho: Tiãozinho, Ivan, Valdir, Matozinhos, Bocão, um ninho de cobras. Nossa quarta série então, era só um pouquinho menos: Marco Antônio, Marquinhos Bilico, Bécaud, Zé Maria Caxineta, William Bulinha, Tode, Marcos Fifi, Édson Aguiar, Eládio...Num confronto direto, comigo ou sem migo, corríamos o risco de um bom castigo...

Mas a contenda que houve foi de nossa quarta série com o tradicional time do Zé Tavares, por sinal, cunhado e compadre do Zé Emídio. Deu-se numa ensolarada manhã de um sábado de dezembro no campo do Zé Tavares, gramado e aberto ao público, já que naquele espaço adjunto à Fábrica de Tecidos, nem cerca havia, e a sua ocupação se alternava, além do futebol, com circos, parques de diversão e até acampamento de ciganos...

Em razão das dimensões do terreno, as equipes se sentiam mais confortáveis com uns oito ou nove de cada lado. Zaía, atleta do Clube Atlético Pitanguiense, que treinava também seu grupo de rapazes, graciosamente assumiu o apito.

O jogo, embora amistoso, foi bem disputado, e o Tavares colocou sua melhor formação em campo. Seu filho Evandro, o keeper Djalma, o Túlio, o Concesso Branco, o Coreto...e naturalmente o Jackson, que ainda rapazinho franzino, mostrou o quanto vale um Valério em campo com dribles desconcertantes e finalizações letais. Mas nosso time foi melhor no conjunto e nos destaques individuais... A ponto de fazer 4 a 1.

Quase esgotado o tempo regulamentar, entrei em campo, achando que ainda faria o quinto. E quase que deu: o balão, de couro bem pesado, caiu sobre minha cabeça, e se resvalando pra frente me ofereceu a chance de desferir o arremate para o gol adversário...mas justamente entre meu sonho e o ato, sobreveio o pesadelo: o apito agudo de Zaía, acusando impedimento...e fim de jogo. Não deu para eu suar, a não ser frio...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/02/2021
Reeditado em 08/02/2021
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