Diálogo aberto
Diálogo aberto (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
Manhã de domingo. O sol está quente, pois o calor do dia perece ser muito.
Sentado debaixo de uma árvore, em um banco da praça, onde a sombra forte do xilema, com os galhos bem grandes, faz uma sombra tão bela. Em um banco, vestido de calça social, camisa de mangas compridas; um boné sobre a cabeça, com poucos cabelos; sobre o colo, um pequeno livro, um folheto da missa celebrada às oito horas da manhã; um pequeno bloco de anotações, uma caneta esferográfica, na cor azul, o poeta repousa calmamente.
Sua visão está voltada para o firmamento celeste. A cor azul é bem forte. Não há nenhuma nuvem. O ar meio seco e calmo, houve-se apenas o zumbido de duas ou mais abelhas voando sobre algumas flores.
Um jovem de altura média, vestido de calça jeans, camisa de malha com alguma figura e letras na língua inglesa, constantemente olhando para o aparelho celular, aproxima. Meio desconfiado, um pouco confuso, e olhar direto para o poeta, aproxima-se e diz:
- Bom dia, nobre poeta.
- O que fazes aí, tão tristonho, com o olhar fixo ao firmamento?
- Estás pensando em mais uma de suas lindas e inspiradoras poesias?
Admirado por ouvir o elogio daquele jovem, o poeta olha rapidamente. Com um lindo sorriso nos lábios, mostrando os belos e bem cuidados dentes, com a mão esquerda lizando a pequena e áspera barba feita no dia anterior, ele sorri e diz:
- Bom dia, meu amado e admirador jovem. Não sei o teu lindo e precioso nome. Poderás ser chamado de César, o grande monarca da antiguidade; poderás, também, ter o nome de Carlos, semelhante a Carlos Drummond; José, de Alencar a Machado de Assis, enfim, algum nome relacionado à literatura.
Mal esperando o poeta terminar, ele responde:
- Meu nome é Carlos. Tu acertaste.
- Senta-te, pois o calor está tão forte e este lindo presente de Deus, a sombra desta nobre árvore, cobre-nos e o frescor da temperatura ainda nos dá a alegria e a felicidade em contemplar os pensamentos.
- Muito obrigado.
Sentando ao lado do poeta, os dois conversam constantemente. Falam de tudo um pouco. Dos versos aos anversos; das crônicas às obras de renomes nacionais e internacionais. Comentam sobre a situação econômica e social do país, dos problemas sociais, da violência, dos ensinos médios e superiores; das profissões, dos sonhos, das verdadeiras amizades. De tudo um pouco.
Em um certo momento, o jovem diz:
- Sr. Poeta! Admiro muito teus textos. Noto, porém, que hoje o Senhor estás um pouco triste. Teu sorriso não é mais o mesmo de algum tempo atrás. O que está acontecendo?
- Nobre jovem! Fico feliz por preocupares comigo. Tenho o dia e a noite, um lindo presente dado por Deus. Tenho a mais bela e harmoniosa família. De tudo tenho um pouco. Não estou triste, mas digo-te o seguinte:
- Vês aquele pássaro pousado na árvore?
- Vejo sim, Senhor.
- Então, ouças:
- “Nobre pássaro, na árvore, pousado,
Está feliz, não foi azarado.
Alguns amigos estão presos na gaiola,
Para eles, uma paranoia...
Ele, porém, livre canta,
O mal espanta...
Lindas notas
Ele tem de sobras,
Pois a liberdade lhe almeja,
E, a outros, inveja.”
- Quanta facilidade em compor os versos?
- Não meu amigo. Não tenho facilidade. Sou tímido, nem mesmo sei conversar direito. Veja-te aquele lindo e destemido beija-flor ali, ao lado:
- “Belo pássaro livre,
Voando por sobre a flor.
Não esquece um só momento breve,
É sua vida, é seu amor.
Quando beija a flor,
Esconde em si o calor,
Da primavera,
Sua esfera...”
- Queria que o tempo não passasse hoje, porque estou ao lado de uma das inteligências mais sublimes da face da terra, murmura o jovem.
- És novo, és a mais pura de invejável inteligência. Dentro de ti existe algo tão belo e precioso. Este algo é tu mesmo, pois estudarás e um dia lembrarás deste velho e tímido poeta.
Levantando-se rapidamente, o poeta despede do jovem. Com um aperto de mão, o abençoa como se fosse o próprio pai dele. Fica surpreso com o jovem que assim diz:
- “Meu nobre amigo.
Obrigado por ficar comigo.
Sou jovem e nada sei
Espero que não errei,
Em fazer estes humildes versos...
Não tenho textos diversos...
Vou estudar e ser poeta,
Assim, atingir minha meta.
Não serei igual ao Senhor,
Que fazes versos, com muito amor...
Obrigado por estás comigo,
Serei sempre o teu amigo.”
Com lágrimas saindo dos olhos, o poeta passa uma das mãos no rosto. Vê uma pequena formiga, próxima ao sapato e diz:
- “Amigo é para sempre,
Deste dia, lembre...
A pequena formiga,
Estando aqui, perto de mim, é minha amiga.
Não a maltratarei,
Porque os seres vivos eu não matarei.
Sonha e seja humilde,
Faça da vida e tenha a Matilde,
Sua musa e encantadora.
Sua personagem e admiradora.”
Falando assim, desapareceu na luz forte entre as árvores e a praça. O jovem, ainda admirado, olhou para o firmamento e vendo o azul celeste, diz em voz alta:
- Será que um dia escreverei,
Da vida não temerei...
Terei o sonho e ação,
Farei do mundo uma ficção.
Não serei como o poeta,
Serei inferior, a minha meta.
Eu o terei como inspiração,
Porque será a minha missão.”