Papillon

Uma pequena menina de cor azul, azul escuro como as ondas de uma tempestade no mar, vasculhava um antigo baú onde haviam velhos e empoleirados itens. Havia ali albuns, porta-retratos, enfeites porcelana e até um conjunto de xícaras de chá. Soterrado em baixo de todos os itens ela então envolveu a pura mão azul em um pequeno objeto talhado em madeira, talvez fosse o que de mais antigo havia nesse misterioso baú. Ela limpou então a poeira acumulada de séculos e se fez nítida a escultura de uma borboletinha em pleno vôo saindo de uma base circular. O objeto lhe era estranhamente familiar e lhe intrigava. Passava-lhe na mente como pôde o artesão esculpi-la tão livre e então deixá-la presa em adornos de madeira para sempre, uma infinita e ilusória expressão de liberdade, liberdade esta que zombava-lhe a razão e realidade. Via-se questionando também se não ocorreu ao artesão a gentileza de perguntar a borboletinha se ela havia mesmo de querer sair do seu casulo empírico para viver uma falsa promessa de liberdade em um pedaço de madeira velha. Quem sabe ela lhe respondesse que gosta mesmo de ser lagarta e viver em galhos mais próximos ao chão. Mas não, ele não lhe deu opção. A jovem menina azul fechou o baú, suspirou profundamente como se fosse o último suspiro dos pulmões, mas carregou consigo a borboletinha no bolso.

Isabella Clarice
Enviado por Isabella Clarice em 02/02/2021
Reeditado em 02/07/2021
Código do texto: T7175044
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