A ROSA QUE ME FEZ SORRIR

Ano de 1964, no auge da

repressão, carros militares do exército, soldados na rua, barulho de bomba, muita correria, porém eu na flor da minha inocência não entendia nada daquilo.

Morávamos no bairro Pe. Andrade em Fortaleza, a família recém chegada do interior, eu com meus 09 aninhos de idade, só queria saber de estudar, brincar de bola de gude (bila) soltar araia(pipa)e jogar bola.

O salário que meu pai ganhava não dava para comprar os brinquedos, só dava pra comprar alimentos, então eu mesmo que fazia os meus brinquedinhos, confeccionava as araias(pipas) e fazia meus carrinhos de madeira e as vezes de lata.

Na época do inverno era propício para brincar de carrinho na areia molhada.

Eu pegava uma lata de leite ninho, furava um buraquinho na tampa, enchia de areia, colocava um cordão e saia puxando no terreno molhado, era uma diversão incrível.

Como no início falei, era ano de 1964, no auge da repressão, eu saía brincando pela rua do bairro puxando a lata de ninho, as vezes só e as vezes com os amigos do bairro.

Certa dia fomos "bater" na Av. Mister Hall/Bezerra de Menezes, local um pouco distante de minha casa, lembro como se fosse hoje, uma tarde chuvosa um dia lindo, porém o cenários não era muito agradável para uma criança de 09 anos.

Soldados soltando bombas para dispersar um grupo de pessoas que estavam na rua, porém, eu com medo, fui por outra rua para se distanciar daquela confusão, quando deparei com uma guarnição do exército (Jeep) parado na esquina e os soldados com suas baionetas enormes em pé distante um do outro.

A priori eu me assustei, no entanto tinha que passar perto dos soldados para seguir com destino a minha casa.

Como forma de talvez agradar o militar, eu tirei um pacotinho de biscoito do bolso do calção e entreguei o militar, que assustado olhou pra mim, a princípio não quis receber, porém eu levantei a mão mais alto que a minha cabeça exibindo o biscoito, foi quando então ele sorriu e pegou e disse "vá pra casa menino".

Eu fiquei morto de feliz e sair daquele local, puxando meu carinho de lata ao som do barulho de bombas que me fazia medo.

Confesso que fiquei traumatizado com tudo aquilo e quando me aproximava da minha casa a vizinha percebeu o meu nervosismo e me chamou, porém nada falou , entregou umas rosas para dar pra minha mãe, foi quando eu esborcei um sorriso e continuei andando.

Moral da História :

Mais uma vez a simplicidade e o gesto de uma criança, nos faz sentir ser mais humano e solidário.

Não sei o que passou na cabeça daquele soldado armado com aquela enorme baioneta.

De uma coisa eu tenho certeza, ele deve ter tido a consciência de que o AMOR e a PAZ andam juntos.

CONTO de Edilberto Nobre baseado em fatos reais.