Respire Mais Uma Vez
27/01/2021
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-Respire mais uma vez. Viva para mais um respirar. Enquanto estiver respirando estará lutando para sobreviver.
Li essa frase em um livro interessantíssimo sobre a tragédia ocorrida nos Andes, há quase cinquenta anos. Refere-se à queda do avião com a equipe de rúgbi formada de jovens uruguaios. Escrito após 30 anos do ocorrido por um dos sobreviventes, narra sua traumática experiência vivenciada.
O fato causou muita polêmica na época, pois para sobreviverem alimentaram-se dos corpos dos mortos enregelados. Lembro-me bem do ocorrido. Só depois de setenta e dois dias foram resgatados, porque o autor com um companheiro caminhou durante oito dias pela inóspita região andina. Escalou picos gelados de até 4.500 metros de altura, percorrendo cerca de 100 km até encontrar vaqueiros chilenos. Uma epopeia real de perseverança e altruísmo descrita por ele no livro.
A leitura me impactou bastante pela crueza dos fatos, pois mostra a nossa fragilidade junto ao acaso da vida que ocorre aleatoriamente e não poupa ninguém. Por exemplo, o autor estava sentado em um banco junto à janela. Seu melhor amigo pediu para trocar de lugar, pois queria ver a paisagem gelada dos Andes. Tal mudança provocou a morte dele na queda do aparelho. E se não tivesse feito a troca, ele estaria vivo?
Em uma manhã, estava eu no mar nadando de costas e olhando o céu acinzentado. Rememorava o trágico livro. A água estava cálida e fresca, o vento fraco e morno, as ondas quebravam na orla. Placidamente, voavam algumas gaivotas e fragatas. Eu estava em paz, sereno ao sabor daquela imensidão líquida que me engolfava maternalmente.
-E se eu naufragasse no alto mar à noite, como me sentiria e reagiria? Como sobreviveria? Seria pior ou melhor do que na neve? – divaguei por instantes.
-Respire mais uma vez. Viva para mais um respirar – voltei ao mantra, enquanto fluía por mim a sensação tranquila de me sentir vivo.
Parei completamente de nadar. O meu corpo flutuava leve e livre ao sabor das pequenas ondas que o acarinhavam. Devagar e compassadamente, o som do meu respirar crescia. Ao mesmo tempo, o bater do meu coração aparecia nítido e forte, mostrando o quão vivo estava; respirando.
- Respire, respire profundamente mais uma vez. Você está vivo!
Voltei meu pensamento ao livro, em que essas palavras haviam sido ditas a um dos moribundos, como alento e estímulo para que aproveitasse cada mínimo instante de sua existência, não importando se viveria ou não, pois a cada respiração, a vida se mantinha. Valia a pena lutar por ela.
Agora o meu mote é:
-Respire, respire mais uma vez para sentir que está vivo. Vale a pena!
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