AMOR É MESMO COISA LINDA

Ele chegou como quem não quer nada, andando devagar e empurrando a bicicleta.

Aparentava quarenta anos, trabalhador rural e estar longe de casa.

Parou no portão e olhou para vazio, como quem raciocina para escolher um estratagema de melhor abordagem.

Era visível que acabara de sair do banho.

Limpinho, cuidadosamente penteado, vestia a melhor roupa.

Da distância onde eu me encontrava dava para sentir o perfume de água de colônia usado em abundância.

Encostou a bicicleta no meio fio da calçada, deu dois passos até o portão e solenemente bateu palmas.

Havia algo inusitado na cena.

Era a primeira vez que eu via alguém bater palmas à porta de um puteiro.

A dona da casa abriu o portão com cuidado, ressabiada, como quem espera a visita do oficial de justiça.

_____ A Náldia está?

A cafetina ficou desconcentrada.

_____ Náldia?

_____ É. Náldia. Ela está?

A mulher olhou a triste figura do quixote a procura da Beatriz.

_____ Não. Não está! Serve outra?

_____ Não. Quando a Náldia volta?

A lupaneta saiu para a calçada e examinou curiosa o "esquisito" em busca de um nome improvável:

_____ Não sei quando ela volta. Tem outras moças, não quer entrar?

Ele não queria.

A contrariedade era visível.

Ficou pensativo, decepcionado:

_____ Sabe onde a Náldia mora?

Ela balançou a cabeça e declinou algumas qualidades da casa.

Ele não ouviu.

Via-se perdido.

Saiu andando.

Depois parou e voltou para pegar a bicicleta.

Não foi longe.

Voltou mais uma vez.

E bateu palmas novamente.

Educado e solene.

A cafetina chegou ao portão mais decidida.

_____ O que é agora?

_____ Quando a Náldia voltar diga que o Raimundo procurou por ela.

Subiu na bicicleta e saiu pedalando, cabisbaixo, deixando pra trás rastro forte da água de colônia.

Fiquei a refletir que Eliezer, meu falecido amigo, é quem tinha razão quando afirmava que o amor é o triunfo da imaginação sobre a inteligência.

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Sajob, janeiro / 2016 + 5