VOCÊ NÃO É ESCRITOR! O CHURRASCO!
-" Você não é escritor!" Outra mensagem no meu WhatsApp. -"Vai lá no Recanto das Letras, tenho muitos contos lá!" Respondi ao Ubirajara, antigo amigo de escola. -"Ah, não. Não sei mexer nesse negócio de celular. Escreva, se é mesmo escritor, eu fiz churrasco!" Soou mais como desafio mas entrei na brincadeira. -"Segundo domingo de janeiro. Um janeiro chuvoso. Espreguicei na varanda, tomando um pouco de vitamina D solar. -"Não vai dar praia mas vai dar churras!" Olhei pra ela, ela olhou para mim. Retirei a lona preta de cima da churrasqueira de inox. Lavei a grelha e os espetos. Tião Carreiro no rádio, no volume máximo. O avental do Masterchef. O boné virado pra sal grosso e carvão. O pano de prato nos ombros. Uma latinha de cerveja pra começar os trabalhos. Pedi licença, como bom cavalheiro, pra tocar fogo na churrasqueira. A fumaça indo pra casa do vizinho. Os preparativos, enquanto o braseiro chegava ao ponto ideal. O arroz cozinhando. A macaxeira na panela. Rúcula, o vinagrete, o pão de alho pra abrir o apetite. Os familiares chegando. A linguiça cuiabana, o queijo coalho, banana assada com canela. Abacaxi. Asinhas de frango. Panceta. A rainha das carnes, a picanha. O cheiro delicioso. O corte no ponto, após os dez minutos de descanso. -"Marido? Observa aí pra aprender a fazer churrasco e não queimar a carne, como você faz!" Outra latinha aberta, pra matar a saudade de antigos churrascos. As histórias. As piadas. A molecada correndo. Um prato sobre o muro, com carnes, para o vizinho não ficar só na fumaça. A mulher que inventa de fazer maionese e quer a carne esturricada. Coraçãozinho de galinha saindo. A prosa boa que entra tarde adentro. Outra latinha pra molhar as palavras. O sorvete tradicional. Churrasco é bom demais!" O outro visualizou. Vinte minutos depois, uma foto do Bira, na fila da carne, no açougue do mercado. -"Mostrei seu texto pra minha esposa. Ela quer comer churrasco e me mandou pro mercado!" FIM