O passado do candidato
O fato novo era que ao me tornar conhecido do eleitorado, atraí a atenção das velhas raposas da política, e resolveram me atacar em várias frentes, começaram relembrando minha vida de entusiasta da pixação.
Antes de estar ali, debatendo os problemas e soluções da cidade, havia escrito odes sobre a “verdadeira arte urbana”. E durante o debate, o jornalista querendo me ferrar, perguntou se conhecia uns tais OS BRONHA, mostrando me e também às câmeras e, portanto, à todos os telespectadores, umas folhas antigas, que eram partes da minha pasta de pixo, ah como nos sentíamos autênticos colecionadores de arte! Possuir todas aquelas assinaturas de nomes os mais variados, era motivo de orgulho, o pixo de São Paulo é referência mundial em originalidade dos caracteres. Os pixadores são seres humanos que correm alto risco (de vida, inclusive) para expressarem-se e a adrenalina é um fator essencial, que nos move, que faz o artista ignorar o fato de que pode ir fundo em nome desta “Praga Urbana” e pode acabar com um balaço nas costas ou na melhor das hipóteses com a cara pintada pelo seu próprio spray.
O jornalista apostava que com sua pergunta eu me desestabilizaria, o que certamente teria ocorrido se fosse com meus adversários hipócritas, mas, tinha comigo por princípio, que jamais renegaria a maravilhosa pixação (imaginei o tamanho do assombro que seria se revelasse que, mesmo hoje, permaneço um praticante da Grande Arte Urbana, e que tenho um spray preto fosco, escondido no porta-malas em meu carro, pronto a ser usado em caso de avistar algum painel disponível pela cidade!).
Me saí muito bem no debate, era o que dizia meu recall no dia seguinte. No entanto, ainda durante o debate, houvera mais uma tentativa de me constranger perante os eleitores, objetivando me deixar pelo caminho, sem alcançar a dádiva de disputar o segundo turno. Um rival insistia em trazer à superfície o meu passado...desta vez, meu envolvimento com a Cannabis, questionando com um mal disfarçado ar de indignação, se caso eleito, distribuiria maconha às crianças, maconha na merenda, maconha no recreio, maconha na festa junina, um verdadeiro cretino, como pode este indivíduo cometer tamanha baixeza? Deixei clara minha posição, olhando nos olhos dos eleitores (pela câmera) “não vos negarei que tenho meus pezinhos em casa, são apenas plantas, obras da natureza, mas meu deus do céu, distribuir às crianças, isso não existe!!!!”
Na minha opinião a polícia não deveria prender o pequeno traficante, deveria prender os bandidos do andar de cima, já a molecada nas biqueiras, fazendo o 12, tem que fazer vista grossa, porque senão haja cadeia! Isso é polêmico, então fica só em pensamento, porque como disse, fui muito bem no debate de ontem, mas se soubessem o que realmente penso, com todas as letras, talvez não votassem em mim, era o que vivia repetindo o meu marqueteiro.