A secretária Dolores

Acordei cedo, na verdade nem dormi bem essa noite, esse colchão velho, cheirando a mofo me dá coceira, me dar dor nas costas. Já fui no médico algumas vezes ele me disse que essas dores e coceira que não saram nunca deve ser do meu colchão.

- Mas com que dinheiro vou trocar esse danado, se o que ganho mal dá para sobreviver?

Mesmo cheia de dores e com um noite mal dormida pego minha monark e sigo pro meu trabalho, lá eu tenho que chegar cedo, tenho uma chave do portão pequeno, devo entrar sem fazer barulho, toda rotina já sei “dicó”, primeiro limpo as fezes do cachorro.

- Não sei porque esse povo inventa de ter animal, se não consegue limpar uma bosta.

Depois passo para a cozinha, quando todos acordarem a mesa deve estar pronta, devo servir até todos encherem a pança, pra esse povo rico nem precisa de muito, o ruim é que todos acordam em horários diferentes, tenho que ficar lá esperando até o ultimo comer para só depois tomar meu café em pé, já adiantando as outras tarefas.

Hoje o menino mais novo pediu ovo frito, eu fritei um, minha patroa perguntou se tava negando comida pro filho dela, porque essa miséria, frite mais!

Pra meus meninos, um é suficiente pensei.

Quando levei o ovo para ele, disse que não queria mais, agora queria tapioca.

Ela me olhou e pediu que eu fizesse.

Fiz, mesmo sabendo que talvez ele não fosse comer.

Ah como queria poder falar umas poucas e boas para aquele pequeno, queria que ele soubesse que meus meninos lá em casa só iam comer um café preto, a próxima refeição se dessem sorte seria na escola, se não, só um feijão com arroz no almoço.

Mas nada posso dizer, enquanto jogo comida no lixo, tenho vontade de pedir as sobras para levar pra casa.

Kaline Paiva
Enviado por Kaline Paiva em 11/01/2021
Reeditado em 14/01/2021
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