Jaune

Na cidade mais pacata que eu conheço existiu uma moça de delicados ornatos. Tão delicados quanto o mato grosso que cerca varandas terrestres abandonadas. Seu pai morava no sertão, mas tinha vivido na capital do país, que a época chamava-se Rio de Janeiro; ainda se chama assim, digo, a cidade. Hoje a capital é outra, um lugar inventado. Por ser homem do campo seco, mas mesmo assim estudado em Academia na capital, João Ariano era sujeito metido a culto, com sombrio e divertido orgulho. Aprendeu o inglês por obrigação do mundo que se formava outro, e exigia tal mudança. Mas havia tido libido pelo francês: o que era costume acadêmico da época - na verdade, continua sendo.

Nessa combinação de humor e paixão, conheceu no Rio Dona Amélia, a quem só pôde ter um filho. Um filho que nasceu menina e órfão de mãe.

"A cor preferida do meu amor era Amarelo", dizia Seu João em prantos no leito de Vida e Morte, onde nascera a menina sem mãe e nome.

"Seu nome será Amarela", disse baixinho o homem.

"Mas Amarela, meu tio?" Estranhou Joaquim, o sobrinho.

"Sim! É decisão de amor, não se meta, menino."

"Desculpe, tio. Mas como é que é isso naquilo?"

"Mas o quê?"

"Aquela fala que o senhor gosta!"

"Francês, Joaquim."

"Isso! Como é que é 'Amarela' em francês?"

"Amarelo!"

"Isso. Deve ser mais bonito..."

"É Jaune."

"Hum, J-A-U-N-E?"

"Amarelo..."

Assim nasceu a moça que eu contei. Jaune, doce e forte. Da cor do sol.