Histórias esquecidas
Texto revisado de título Nuvens, escrito em 12.09.2002.
02/01/2021
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Estão no céu na manhã; brancas, claras, alvas como algodão, mas nada distingo nelas, as nuvens.
Lembrei-me então, quando criança, deitado na grama olhando o céu, vendo-as na sua passagem calma o meu mundinho fantástico, com elas de personagens. Descortinavam-se as formas para mim no azul infinito, como um filme.
Cavalos correndo com cabeleiras ao vento, cachorros alegres pulando, pássaros de asas enormes, elefantes trombudos, tigres e leões, homens gigantescos, deuses mitológicos, barcos, carros, baleias e golfinhos, tubarões, enfim muitas figuras apareciam e vagavam pela minha imaginação fértil, acompanhando-as extasiado.
Via com clareza e excitação ao descobri-las, pois se formavam ao sabor do vento, aleatoriamente. Era bom aguardar o que apareceria, e depois, no que se transformaria, pois as imagens não se mantinham, mudavam assim como nasceram, sem razão e por que. Eram efêmeras, como as nuvens.
Vendo-as agora, desfilando no firmamento limpo e claro, me esforço para conseguir visualizar algo, como naquela época. Não consigo; tento, tento e elas passam por mim sem descobrimento.
É preciso esperar, ter calma, pois a imaginação não tem a mesma agilidade e criatividade daqueles tempos ingênuos. Perdeu-se com a maturidade.
Devagar, começo a distinguir as formas e, novamente, uma parelha de belos cavalos brancos, rompantes e fogosos, galopando lado a lado. Lindos!.
Mais atrás, um cardume de grandes peixes branco acinzentados, maiores que os cavalos. Os perseguem, e se não correrem, serão engolidos. Corram, corram cavalos!
Acima deles, uma enorme tartaruga nadando placidamente, com seu casco acinzentado e nadadeiras brancas, como um enorme zepelim pairando no ar.
Ah, um pequeno nadador solitário acompanhando-os, talvez nadando na superfície do mar, observando o cenário que se apresenta abaixo.
Então, forma-se um imponente e lindo navio de chaminés fumegantes, um colosso, singrando calmamente os mares das minhas fantasias. Que beleza!
Fico entretido por um tempo, contemplativo e embevecido pelo que consigo visualizar nas nuvens, com a imaginação livre e solta, igual quando menino: me fez feliz pelo resgate dessa sensação.
Valeu a pena ver as nuvens passarem, talvez conte muitas histórias esquecidas de nossas vidas.
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