EM UM CRUZAMENTO DA CIDADE
Às 18h30min, 22 de novembro de 2011, na Avenida Domingos Olímpio com a Rua Senador Pompeu a luz vermelha do semáforo se acende. Paro o veículo com os vidros semiabertos na faixa da pista próxima ao canteiro central. Um senhor magro e barbado de calças jeans estropiada, calçando sandálias, surge repentinamente.
- Por favor! Você pode me ajudar? Minha esposa está grávida!
Percebo os seus olhos marejando.
- Ela vai dar à luz! É o meu primeiro filho.
- Onde ela está? – Pergunto-lhe comovido com a situação.
- Ela está bem ali!
Embora as portas do carro estejam travadas, o sujeito passa pela frente do veículo e tenta abrir uma delas.
- Por favor! Me ajuda! Ela tá no outro lado da rua. Eu sou pobre. Não sou pilantra nem marginal!
Sinto o odor de cigarro, ele se afasta um pouco e aponta em direção à Rua Senador Pompeu.
No momento em que vou destravar a porta, uma ideia* trava minha ação.
Recolho a mão e solto a língua:
- Amigo, não! Procure outro! Alguém que está estacionado naquele posto de gasolina.
Um rapaz de boné no veículo gol parado ao meu lado diminui o volume do som e observa o episódio.
O homem sai resmungando, retira-se contornando a traseira do carro, sobe o canteiro central e grita: - Precisa não! Eu não sou marginal, eu sou cidadão, meu filho!
Ele atravessa a outra pista e o rapaz me pergunta: - Você o conhece?
- Não!
Sinal verde, passagem livre e episódio encerrado.
* Em alguns casos, sujeitos simulam essa ou outra situação análoga em que possam persuadir o condutor do veículo a ajudá-lo. Ao adentrar no veículo, realiza assalto levando pertences e desce mais à frente. Ou, mediante ameaça conduz a vítima a um local onde outros comparsas o aguardam. Poderia não ser também. Mas, vale à pena arriscar-se sendo solidário em uma situação duvidosa?