Contos Sertanejos - Leilão
Na comunidade do Riacho da Guia sempre no mês de agosto se comemora o dia de Nossa Senhora da Guia, a qual é padroeira da comunidade.
Em toda semana há comemorações – procissão, missa, festa e leilão - em homenagem a santa. Numa destas comemorações meu avô foi com seus amigos a pé, pois carro na época era caríssimo e quase ninguém possuía. Além disso, não iam de cavalo, pois não tinha onde colocá-los. As mulheres iam de pau-de-arara da Conceição para o Riacho da Guia, enquanto os homens saíram de casa as 15h00 e iam andando, a época era difícil transporte automotivo.
Nos leilões realizados no Riacho da Guia, os produtos eram coisas simples: galinha assada e/ou viva, goiabada, garrafa de bebida alcoólica, bonecas e entre outros, mas todo mundo participava do leilão, pois o objetivo principal era ajudar a igreja. Quem participava dos leilões eram os homens, pois para eles era uma forma de mostra quem possuía mais dinheiro e impressionar as mulheres, enquanto as mulheres ficavam apenas observando.
Ao iniciar o leilão, começa a disputa entre os homens e ainda tinha a questão da rixa entre as comunidades, porém o leilão acontecia de modo pacífico.
Em uma de suas lembranças destes leilões meu avô contará, ninguém brigava em respeito à igreja e a santa, mas como tudo tem uma exceção, um modo de causa conflito com seu rival sem brigar fisicamente é através da agressão psicologia.
Meu avô e seu amigo Carlos armaram uma brincadeira durante o leilão. Eles só entravam no leilão quando estava sendo leiloadas as bonecas, pois os mesmos tinham como objetivo rematar as bonecas e entregar aos outros homens da Conceição. Esta brincadeira deixava os rapazes da Conceição furiosos.
Durante um leilão de uma boneca de mais ou menos um metro, meu avô e Carlos a remataram por uns vinte cruzeiros. Eles foram até o leiloeiro e pagaram o valor e falaram para o leiloeiro que a boneca era para Paulinho. Paulinho era um velho que ficava “correndo” atrás da moças na Subaúma.
O leiloeiro que também adorava uma brincadeira participou desta armação. Meu avô mandou o leiloeiro esperar que Paulinho chega-se e quando o mesmo estivesse um bom tempo ali, o chamasse para ir pegar sua namorada.
Por volta das 18h20min, Paulinho chegou ao Riacho da Guia, depois de meia hora, perto de o leilão finalizar, o leiloeiro chamou Paulinho no microfone.
- Senhor Paulinho venha até o palco!
Paulinho ficou espantado, pois não havia participado do leilão e muito menos rematado algo. Ao chegar até o leiloeiro, perguntou do que se tratava:
- O que o senhor deseja comigo?
O leiloeiro pegou a bendita boneca e respondeu seriamente, porém se acabando de rir por dentro.
- Mandaram que lhe entregasse sua namorada.
- Que namorada?
- Está.
Meu avô e Carlos estavam no bar bebendo cerveja se acabando de dar risadas. Além do povo que se encontrava na praça. Paulinho ficou furioso com a brincadeira e imediatamente perguntou ao leiloeiro:
- Quem foi o filho da mãe que mandou que me dê-se esta boneca?
O leiloeiro se fazendo de desentendido o respondeu:
- Não conheço o rapaz, apenas pagou e mandou que lhe entregasse. Tome sua boneca.
- Minha não. Aliás, me dê.
Paulinho pegou a boneca e deu a primeira menina que encontrou pela frente. Depois disso Paulinho entrou porta adentro no bar furioso, quem já estava lá dentro tratou de ficar quieto, porém meu avô e Carlos continuaram a dar risada, mas Paulinho nem desconfiará que tenha sido eles os responsáveis pela brincadeira. Meu avô e Carlos tomaram seu último copo de cerveja e saíram rumo ao caminho de casa as gargalhadas.