O PRESENTE ESQUECIDO II

O presente que ficou no passado

O passado que ficou esquecido

Tempos de sonhos idos

Toda a fantasia, no agora transformado.

Um homem do alto da sua maturidade, sem a presença dos seus parentes, observa as lamúrias de uma criança que chorava por se sentir traída por não ter encontrado debaixo da sua cama o presente do papai Noel, a despeito de ter ganhado tantos outros dos seus pais e tios.

A cena poderia ser alvo de vários comentários, afinal porque não revelar àquela imatura a realidade de quem verdadeiramente distribui os presentes no dia 25 de dezembro?

A imaginação fértil que povoa a mente de nós outros é imensurável, quantos também não vivemos num mundo de poliana?

Ser criança é importantíssimo, pois quando assim, nunca deixamos de sonhar. O que é estupefaciente é nos permitirmos ser infantis.

Àquela menina, o tempo lhe favorecia o delírio juvenil, porém recriminá-la por ter sido levada a crer num personagem fofinho, que presenteia todos os que bem se comportaram o ano todo, seria crível, num mundo de tantos com tão pouco e poucos com um muito de insatisfações?

Certa vez, um homem de bem afirmara: “ o bolso do ter nunca enche”

Numa sociedade consumista em que os valores das coisas têm menos importância do que o ticket do caixa, como exigir um comportamento de uma aspirante ao entendimento de um mundo catedrático?

As perguntas que rondam na cabeça da pré- adolescente, levam-na certamente ao um labirinto indecifrável, mas daí o que seria desse nosso mundo? Melhor seria vivermos sem labirintos ou com a capacidade de saber aprender a viver dentro deles, encontrando novos rumos.

Questões que nos transportam, nos tiram e/ou nos embaraçam nesses labirintos:

- o que cremos

- o que nos induzem a crer

- o que passamos a ser diante daquilo que criamos com as nossas crenças.

Há 2020 anos tivemos entre nós um homem que revolucionou o planeta, indicando-nos qual o melhor caminho a percorrer os labirintos que construímos. Quatro séculos depois, surge a ideia folclórica do papai Noel, personagem do bom velhinho que distribui presentes, fortalecido por um marketing de um refrigerante.

O primeiro, por ousar desconstruir os muros da ignorância, derrubando poderosos em seus castelos, demarcou um novo tempo, mas por não ter a audácia de destruir a lei, foi julgado e arremetido para os porões do esquecimento de muitos, e ainda por esses mesmos considerado como se nunca tivesse existido.

O contemporâneo, reforçando em nós antigos arquétipos, molda uma sociedade a se locupletar e a se presentear, no entanto, sem necessariamente se fazer presente.

O homem do alto da sua sacada ainda espera os seus ausentes;

Os seus presentes serão sempre bem-vindos, crente da sua realidade

O passado não tem como ser corrigido, mas pode servir como aprendizagem.

Quando somos crianças, os sonhos sempre são renascidos, seja em qualquer paisagem;

Pior que rejeitar toda verdade,

É deixar-se iludir , seja em qualquer idade.

PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)

26122020