O SUPERPODER DE ARNALDO
Certo dia, acordou e descobriu ter adquirido um superpoder que iria mudar a sua vida para sempre: tinha a capacidade de movimentar objetos e, para quem duvidasse, deslocar o ambiente ao seu redor. Era melhor ninguém mais se meter com ele!
A aquisição daquele superpoder, a princípio, lhe causara um certo desconforto, mas não lembrava de como o conseguira. Não fora picado por nenhum inseto como no caso do Homem-Aranha, nem estivera exposto a uma explosão de raios gama como o Incrível Hulk. No entanto, agora ele tinha a clara percepção de dominar uma habilidade nova tão espetacular como escalar paredes ou levantar um tanque de guerra com apenas uma das mãos.
Esta recente competência não poderia ter chegado em melhor hora, haja vista ele já ter passado dos 50 anos e encontrar as dificuldades próprias da idade para trabalhar. Chegou na cozinha todo eufórico, pois queria anunciar a boa notícia à esposa.
— Emengarda, quero te dizer que, de agora em diante, sou um super-herói. Possuo um incrível superpoder. Tenhas mais respeito comigo, viu?
Ela parou de beber o café, quase se engasgando com o pedaço de pão.
— O quê? Tu tá de brincadeira, né?
— Duvidas do meu poder?
— Ha, ha, ha... deixa de ser tolo e vai trabalhar, Arnaldo. Tu já tá atrasado.
Aquilo o enfureceu. Ficou com raiva da mulher. Ela tinha o péssimo costume de menosprezar as suas capacidades. Infelizmente, Emengarda precisava levar uma lição.
— Levante-se, tu agora vai sentir a fúria das minhas novas habilidades, ah vai sim!
Ela largou a xícara, engoliu o pão, levantou-se da cadeira e colocou as mãos nos quadris em tom desafiador.
— Manda vê, mas seja rápido porque eu tenho mais o que fazer.
Ele se posicionou de perfil em relação à esposa. Fixou o olhar por um breve momento na parede à sua frente. Respirou fundo, esticou os braços para baixo, fechou as mãos e girou a cabeça num gesto brusco na direção dela. A pobre coitada foi deslocada para o lado numa velocidade incrível. O deslocamento foi tão extraordinário que Emengarda passou pelo seu lado esquerdo e deu a volta, entorno dele mesmo, diversas vezes seguidas junto com todos os objetos da casa.
O efeito colateral da nova habilidade o deixou surpreso!
O piso da cozinha veio-lhe de encontro à cara. Estava caído no chão, aturdido, sem conseguir se levantar e muito nauseado. Conseguiu ver a mulher ainda rodopiando sem parar no seu entorno enquanto lhe dizia:
— Isso não é superpoder, não, seu aluado. Isso aí se chama labirintite!