1153-MORANDO NA ROÇA - Autobiográfico

Funcionário novato de agência bancária em pequena cidade do Rio Grande do Sul, entrevistava um senhor, agricultor e solicitante de empréstimo para financiar sua lavoura de arroz.

Depois de nome, idade, essas informações burocráticas, perguntei-lhe :

— Então, o senhor mora na roça ou na cidade?

Ele me olhou com um olhar de estranheza, piscou duas vezes com modos de um bom gaúcho, respondeu

— Bah, tchê! Moro numa casa de madeira, no meu sítio. Pequena mas dá bem para nós quatro, eu, a Letícia minha mulher e as duas crianças. Como é que vou morar numa roça ?

A maneira como ele disse “roça” me intrigou. Por um momento, pensei que eu o havia ofendido de algum modo. Mas, de uma forma ou de outra, minha pergunta estava respondida, com outras palavras. Deixei passa aquela situação um pouco estranha.

Mais tarde comentei com o Ozanan, colega mineiro como eu, e ele, antes de me explicar, caiu numa gargalhada debochada.

— Ha! Ha! Ha! Aqui ninguém mora na roça, não, seu bobo. Roça aqui no Rio Grande Do Sul é o local exato onde são plantados os cereais. Roça de milho, roça de arroz. Só lá em Minas é que falamos roça como toda e qualquer pequena propriedade rural. Um sítio.

Quando os colegas gaúchos souberam da história, fui alvo de grande gozação. Coisas típicas de mudanças drásticas, como foi a minha, mineiro do sul de Minas, morador na então Cidade Maravilhosa Rio de Janeiro, nomeado para trabalhar numa agência de banco no Rio Grande do Sul.

Rememoro esta passagem dos meus primeiros dias no Rio Grande do Sul para explicar o título dessa série de contos biográficos.

Devido à pandemia do Corona Vírus em 2019, batizada de COVID19, e pertencente ao grupo de alto risco, com 85 anos de idade, passei a morar na roça, juntamente com minha esposa Enny, da mesma idade.

Explico: aceitamos, eu e Enny, o convite de Cecilia, nossa filha, e seu marido Lenine, pra mudarmo-nos para o sítio de sua propriedade, ao sopé da Serra da Moeda, em Brumadinho, distante 60 quilômetros de Belo Horizonte, onde deixamos nossa casa residencial no bairro Prado. .

Eles construíram uma casa para nós, pequena, aconchegante e confortável, em local aprazível, cercada pela mata que começa a vinte metros, de onde se vê o pequeno lago entre as árvores. Um encanto.

Morando na Roça será o registro de fatos interessantes e pitorescos, situações dignas de registro, pessoas, comentários e observações relacionadas à minha nova residência.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Sopé da Serra da Moeda, Minas Gerais

5 de outubro de 2020.. –

Conto # 1153 da série INFINITAS HISTÓRIAS

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Os contos relacionados à minha residência no Sitio Estrela:

1.153 – Morando Na Roça

1.154 – Pepino Siamés

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 21/12/2020
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