A história d'um fracassado.

- Boa tarde, seu Adalberto!

- Boa tarde, Pedro! Tudo bom!?

Seguia, assim, a vida do fracassado:

- Amor, acho que, neste mês, não vai dar para pagar a conta d'água.

- Tudo bem, querido. A gente dá um jeito.

Comia o que dava, quando dava. Amava o que tinha, quando tinha.

Pedro, assim como o apóstolo, era um fracassado.

Uma vez ganhou uma bicicleta, mas ela foi roubada.

- Amor, cheguei! Estou muito cansado, vou dormir e depois eu janto.

- Jantar o que, querido? Hoje não deu.

- Tudo bem. A gente dá um jeito.

Trabalhava vendendo camisa de time, na Avenida Paulista. Vendia o almoço, nem pensava em janta.

Pedro, homem bom, honesto. O único problema é que a bondade não dá lucro e a honestidade não dá para vender.

- Preciso ir, amor. Já lavou a roupa?

- Roupa? Isto aqui tem tanto furo que mais parece pano.

- Tudo bem. A gente dá um jeito.

Tinha mulher, a única coisa que tinha.

Pedro, honrado e até bonito. O problema é que honra não dá atenção e a beleza, delicada, não se destaca ante o sofrimento.

- Estou com dor, amor, acho que é pulmão.

- Dor? Acabou o remédio, e é mais fácil morrer que ser atendido pelo médico.

- Tudo bem, querida. A gente dá um jeito.

Tinha dor. A primeira coisa que tinha.

Pedro, sempre alegre. O problema é que a alegria da boca não tira a tristeza do olhar.

- Amor, tem dinheiro? Se não pagarmos o aluguel deste mês, o Adalberto vai despejar a gente.

- Dinheiro, marido!? Só tenho o troco do bujão.

- Quanto?

- 10 reais.

- Tudo bem. A gente dá um jeito.

Pagava aluguel, quando dava para pagar.

Pedro, generoso. O problema é que dava o que tinha para os outros e ficava com o que não tinha para ele.

- Pedro! Pedro! Pedro!

- Tudo bem, seu Adalberto?

- Nada bem, Pedro. Você não pagou a casa, agora vai ter que sair.

- Não tem como me deixar aqui mais um tempo? Só até conseguir o dinheiro para te pagar.

-  Desculpa, Pedro. Não dá para ficar assim, cara. Você tem 30 dias para sair.

Tinha casa. Agora não tem mais.

Pedro, perdido e angustiado.

- O que a gente faz, amor?

- Vamos ter que morar na rua, querido.

- Tudo bem. A gente dá um jeito.

Tinha que morar na rua.

- Tem horas, senhor?

- 22 e 40.

- Então passa o relógio, perdeu!

Teve que roubar. Relógio, carteira, celular.

Pedro, ladrão.

- Passa tudo!

- Sou policial, irmão. Mete o pé.

- Não mete essa, não. Passa logo o relógio, playboy.

- Não vou passar! Mete o pé!

- Não vai passar!?

  Tum! Tum!

Caiu. Tinha que cair, era o destino.

Pedro, matador.

- Encosta aí, ladrão! A casa caiu.

- Calma, senhor. Perdi. Perdi.

Foi preso. Tinha que ser.

Pedro, mais um homem que a vida levou.