O urubu

07.07.2018

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Deitado na rede na varanda de casa em manhã cinzenta de inverno fria e com neblina, pairava ao alcance de minha vista um urubu no céu. Tão baixo?

Planava em círculos alguns metros acima do meu telhado em seu voo seguro, imponente e sereno - altivo, sem força ou esforço. Observava algo? Pensei até que poderia ter algum animal morto por perto, um rato, por exemplo, mas cheiro podre não se sentia.

Acompanhei o seu planar magnífico, e então, veio ele rasante passando por cima da casa, rápido, com suas grandes asas negras, olhos atentos, bico afilado e cara de peru. Pousou no alto de um poste de luz da rua. Ajeitou-se naquele pouco espaço fixando o seu olhar para o chão. Lembrei que era dia de passar o lixeiro, sendo ele, o lixo, amontoado em alguns lugares para recolhimento. Compreendi então o motivo de seu voar baixo. Estava interessado em alguma coisa no lixo.

Sei que é animal "necrófago", se alimentam de defuntos, animais em decomposição, por exemplo, mas também de lixo, há muitos nos "lixões" e vivem em bandos. Por isso, considerados "asquerosos" como as baratas.

Pulou do poste, eu na rede observava seus movimentos, confirmando ser esse seu intuito. Esperei que retomasse seu voo, mas não o vi mais; deve ter ido para outro lado. Não sei se conseguiu alguma coisa; é a rua com trânsito de carros e pessoas, talvez lhe prejudicando a intenção.

Pena, queria vê-lo subir calmamente ao céu com a ajuda das correntes quentes, especialista como poucos nessa ascensão, planando e subindo na sua forma característica, inconfundível. O perdi. Mas há sempre bandos deles voando em círculos no alto do céu e os acompanho.

Apesar da alcunha de bicho feio, asqueroso, seu voar é maravilhoso e sempre me encanto ao observá-los, invejando sua maestria, arte e beleza no voar. Nada de asqueroso!

(Não sei se foi um sinal ruim essa aparição, mas como somos supersticiosos, coincidentemente perdemos hoje nas quartas de final e estamos fora da Copa! Será?)

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