Medo de Injeção
16.06.2018
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Vacinei-me contra a gripe; estou na faixa de risco. A campanha está se acabando e como passava em frente ao Posto de Saúde, resolvi tomar. Enfrentar a picada.
Pego a senha, não tem para atendimento prioritário, aguardo um pouco e sou chamado logo.
Entro na sala, a enfermeira me pergunta nome, idade, endereço, etc.
Prepara a injeção!
Observo o seu ritual compenetrado e me vem na lembrança a minha meninice e o medo que tinha, pavor de tomar injeção!
Não sei por que ou o que fez esse medo se manifestar, pois até fugia da picada!
Uma vez nessa época, bem gripado e com febre, morando em cidade do interior, o médico da família receitou a bendita injeção. O farmacêutico veio aplicá-la em casa, era assim naqueles tempos de cidade pequena, todos se conheciam e tinha-se facilidades em obter esses serviços.
Chega ele e vejo-o vindo pelo corredor da casa com ela na mão já armada . Saio correndo, pulo a janela e subo o muro, escalo o telhado até a cumeeira. Sento e fico lá, emburrado e choramingando.
O farmacêutico sobe de escada na beirada do telhado e me diz:
- Vem, vamos tomar, é só uma picadinha. É como se fosse de uma abelha!
- Não desço não! Dói muito, eu sei! - respondo choroso.
- Vai doer não, só uma picada pequena, vai sentir nadinha, vem! Precisa tomar para poder sarar - insiste.
Ficamos assim por um tempo, ele tentando e eu, sentado no alto do telhado da casa, negando. Veio minha mãe e não me deu chance.
- Ou desce, ou vai ficar aí até seu pai chegar e se entender com ele - enfática, brava.
Desci chorando e fui para a tortura da picada, que doeu pouco, mas o líquido ardia muito!
Depois, tinha 10, 12 anos e fui mordido por um cachorro, um tremendo pastor alemão na casa de amigo da escola com mais outros colegas , brincando em quarto nos fundos da casa. Atravessamos na ida, o quintal com o cão sendo "toreado" pelo meu amigo dono da casa. Na volta, o grupo foi mais à frente e fiquei um pouco para atrás: o bichão veio sorrateiro, colocou sua pata pesada nas minhas costas e mordeu minha cintura ao bater na porta da cozinha, fugindo e entrando apavorado!
O cachorro era cuidado, vacinado, mas o médico, por precaução, mandou tomar a vacina antirrábica. Fomos.
Meu pai me levou ao Instituto Pasteur, e na fila, vi sendo aplicada aquela enorme injeção de agulha longa e fina na barriga de um homem - devia ter cerca de 10 cm só ela, a agulha, e 30 cm a injeção toda. Chorava miudinho e baixinho, ali, aguardando minha vez. Um martírio foi. Tomei 10 doses, minha barriga ficou cheia de feridas, deu febre, um sofrimento inesquecível.
- Posso aplicar? - me chama de volta de meus devaneios a enfermeira, com ela pronta para aplicar a vacina com a seringa, pequena, na mão.
- Sim, claro! Estava me lembrando do meu medo de injeção, quando era pequeno.
- Ah, não é só o senhor não! A maioria dos homens tem. Já veio um, que após tomara a vacina, desmaiou! - completa ela.
- Pois é, mas hoje já não tenho mais.
Abaixo a bermuda, ela esfrega o algodão com álcool, alguns segundos e o "ardidinho" da picada fraquinho, injeta o líquido, e pronto!
Dessa vez não fugi!
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