A Pesca da Tainha
15.06.2018
77
Começou a pesca do seu peixe símbolo - a tainha. De maio até final de junho, é tradicional nessa região do estado e da ilha.
Os açorianos, colonizadores dessa parte do litoral, são apaixonados pelo peixe e suas ovas. Uma iguaria para eles. São pescadores de origem e cultura, também na sua ilha original dos Açores . Fazem a pesca de modo artesanal e tradicional com canoas a remo.
Nas praias do lado leste da ilha é proibido nadar e surfar nesse período, pois atrapalham a pescaria. Há placas de alerta desse impedimento para o surfe. Fica-se refém das tainhas!
Acampam os pescadores na praia - constroem barracão para seu abrigo e das canoas. Mudam para lá a espera do peixe. Todos os dias, retiram dos abrigos as enormes canoas de madeira bruta talhada, empurrando-as para a areia, no aguardo da chegada dos cardumes, para as lançarem ao mar. É um ritual diário nessa época do ano.
Os "vigias", observam a mudança da coloração e textura do mar a olhos nus, provocados pela passagem dos cardumes, postados nos altos das dunas e dos costões de pedra; têm os olhos treinados pelos muitos anos de observações e ensinamentos, de pai para filho. São preponderantes no sucesso da atividade, pois indicam onde estão elas. Um ritual diário também.
Avistadas pelos vigias, que sinalizam aos pescadores, lançam na água o pesado barco em qualquer situação que o mar estiver; são intrépidos, destemidos e corajosos, pois não tem a canoa motor, remam! Enfrentam a "arrebentação" pesada, afrontando-a com a proa alta e imponente do barco, subindo em ângulo forte ao céu ,e caindo, com um baque surdo depois de passarem pelas ondas, em levas sucessivas, até chegarem ao mar aberto, homogêneo e mais calmo.
A remada é vigorosa, compassada, harmônica - um balé de remos para transpor as fortes e volumosas ondas que quebram. Alinham as canoas ao longo da costa seguindo decididos na direção do cardume.
As gaivotas e fragatas acompanham toda a sua façanha, à espera, também, de obter o seu quinhão, voando junto com eles como estímulo, talvez. Sabem que as tainhas estão chegando.
Viajam bastante as tainhas: saem do sul do país, sobem pela corrente fria nessa época, chegando até a costa do litoral da ilha. Vêm aqui para se reproduzir.
Bonita a cena: dia limpo e claro, canoa adentrando ao mar, pássaros voando, sol forte, céu azul e mar anil.
Corre a notícia no bairro, que canoa saiu para a pesca. Começa a correria para a praia: mulheres, crianças, homens, velhos, jovens, todos com sacos plásticos, bolsas à espera de ganhar um peixe. Toda a comunidade aguarda esperançosa, a volta deles com as tainhas.
A tripulação é grande, de até dez pescadores, que lançam a rede e continuam a remar para o cerco do cardume. Outra canoa parte, depois, com a outra ponta da rede, completando o arrasto aos peixes. Voltam juntas para a praia.
A retirada da rede da água, na praia, precisa de muitos braços, por isso as pessoas afloram lá.
É a parte bonita e interessante dessa pesca: gente de todos os tipos, credos, cores, formação, enfim, quem queira ajudar em sua puxada, pega em um ponto na rede, e em ação conjunta, coordenada pelo "cantado" dos condutores, puxa juntos e ao mesmo tempo. As tainhas vêm aparecendo ao chegar ao raso a rede, pululantes ainda, no estertor final de suas forças, mas sem sucesso. São pescados agora.
Ao final da pescaria, é separada a "peixarada" para: a venda,para a tripulação e para os que ajudaram na retirada da rede. Havendo "sobra" depois dessa separação, é distribuída para as pessoas da comunidade local que vieram para praia.
Fazem fila, distribuindo para cada um, ou qualquer um, um peixe ou até mais de um. São todos iguais perante elas, as tainhas! Conseguiram seu sustento e sua iguaria, hoje.
Seguirão "os manézinhos" com a sua tradição de todos os anos no inverno, pescar a mão suas tainhas. Uma tradição que ainda não foi esquecida ou sucumbiu ao progresso.
Meu primeiro livro de contos em pré-venda, seu link:
https://www.eviseu.com/pt/livros/1628/vim-vi-gostei/