Amigos são para Sempre!

À Hailton Gomes , o “Coxinha”

12/12/2020

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Jogávamos duas, três vezes por semana o “21”, uma disputa em meia quadra de basquete entre duas equipes de dois, três até quatro integrantes. Acontecia no ginásio principal do clube que eu frequentava.

Alguns dos integrantes foram incorporados quando passavam pela lateral da quadra a caminho da sala de musculação, viam a algazarra que fazíamos as sete da matina, se interessavam,chamávamos e o grupo aumentava. Conheci um dos meus grandes amigos assim, como outros que mantenho contato mais esporádico até hoje. Faz mais de trinta anos!

Um dia apareceu na quadra um senhor de mais de cinquenta, sessenta anos talvez, magro, simpático, falante, com uma bola e pronto para jogar.

-Bom dia, tudo bem? Vejo vocês jogando logo cedinho aqui na quadra e queria participar da turma, pode ser?

-Sim claro!

Dividimos os times e ele ficou contra o nosso. Começamos a partida, com os times fazendo boas jogadas e cestas, com ele demonstrando habilidade e visão de jogo, como disposição e empenho pela idade que aparentava. Jogava bem, devia ter sido jogador e tinha um caraterística peculiar ao preparar o arremesso, parado ou em movimento: levantava a perna direita em angulo reto no joelho, entre o fêmur e a tíbia, como um passo de dança, e arremessava quase sempre certeiro na cesta. Percebi esse detalhe. Ganharam a partida.

Começamos a segunda, normalmente disputávamos melhor de três jogos, e o time que perdia pagava o café da manhã no restaurante do clube. Esse era o motivo para a disputa acirrada entre nós.

Seguiu o jogo parelho, e em um dos lances para a cesta em movimento, com a perninha levantada, cena bem engraçada por sinal, eu o marcava e coloquei a minha mão nela. Não esperava a minha ação, que o desequilibrou, fazendo com que lhe roubasse a bola e fizesse a cesta para o nosso time. Ele ficou bravo:

-Isso é falta! Não pode fazer isso! – Nós ríamos da sua braveza; um dos nossos lhe disse:

-Aqui no nosso jogo não é falta não. É toco!

-Não senhor! Eu jogo basquete faz mais de 30 anos e sei bem as regras, é falta! – continuou irascível!

Então, outro lhe disse:

-Você vai ser o “Coxinha” da turma. Parece uma coxa de galinha com essa perninha fina levantada quando arremessa.

O riso foi geral, inclusive dele também, tinha bom humor, mas queria a falta. A discussão seguiu, até que um dos professores de basquete da escolinha de esportes do clube apareceu, haveria treino logo mais. Algumas vezes ele entrava no nosso racha, era nosso amigo. O chamamos para dirimir a questão, hilária:

-Bom dia mestre; estamos com uma duvida sobre se é falta ou não essa ação. Coxinha vamos mostrar para ele.

-É falta, certeza! – retrucou Coxinha. Mostramos a perninha levantada dele e eu colocando a mão nela; perguntei:

-É falta, professor?

-Não, você não está bloqueando o movimento dele. Não é não!

-Viu, falou o mestre! Não é falta Coxinha.

-Eita como vou arremessar agora? Você me “sinucou” e de bico hein! – respondeu rindo e conformado com o veredito contra.

-Pessoal, para não espantar o Coxinha, vamos combinar: quando ele estiver parado, não vamos colocar a mão; só quando estiver em movimento, combinado? – lançamos a proposta para ele.

-Combinado, mas dá uma amolecida quando estiver indo pra bandeja, né! – concordou Coxinha.

-Feito turma?

-Feito! – responderam uníssonos!

Continuamos a partida, Coxinha agora esperto, poucas vezes subia para a sexta em bandeja com a perninha levantada, e parado, não a bloqueávamos.

Ele se integrou por completo ao nosso grupo, sendo assíduo nos dias que jogávamos.

Agora, mais de 30 anos desses jogos inesquecíveis, relembramos esse caso com ele, o Coxinha, ou Hailton Gomes nos seus noventa anos, e outros da turma sentados em mesa no bar do clube. Amigos são para sempre!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 13/12/2020
Reeditado em 14/12/2020
Código do texto: T7134691
Classificação de conteúdo: seguro
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