CATISSA DO RABO PRETO (reeditado)
Marcos Barbosa
"Catissa" era uma palavra mágica pronunciada pelos meninos de Camapuã na década de 60. Talvez a tradição tenha continuado com as outras gerações de guris. Estes jogavam bolita e as gurias brincavam de boneca, de casinha, quando não faziam teatrinho brincando de professora.
Ao brincarem de médico e paciente ou médico e enfermeira, eram vigiados pelos pais. Os meninos, muito levados, tentavam tudo para fazer besteirinha com as meninas. Mas sempre se dava um jeito de enganar os pais e debaixo das casinhas improvisadas aconteciam coisas que só os adultos estão acostumados a fazer. Era muito comum ouvirmos algum menino chamar a Catissa e nos divertíamos fazendo a torcida.
—Catissa do Rabo Preto! – Um menino gritava quando o adversário estava perto de acertar e tomar a sua bolita, no jogo de bola de gude. Era uma superstição infantil, mas que muitas vezes funcionava como palavra mágica, deixando o colega de brincadeira nervoso. Conseqüentemente errava, mas se dava ao direito de reclamar porque o outro chamou a Catissa.
Essa crença inata no poder das palavras sempre existiu e me faz lembrar um conto que escrevi sobre duas crentes macumbeiras. (Leia AS CRENTES MACUMBEIRAS aqui no Recanto das Letras).