NATAL NA CURITIBA ANTIGA

Se havia um tempo muito aguardado pela gurizada curitibana na década de 1950, era o do Natal. Já no começo do mês de dezembro as grandes lojas eram ricamente enfeitadas, ficavam repletas de adornos, apresentavam pórticos externos com decoração natalina, vitrines com pinheirinhos iluminados, e belos enfeites junto às ofertas de presentes. Naquela época, quase não existiam redes internacionais de lojas - estas que atualmente infestam as cidades e destroem as características peculiares de cada região. Que eu lembre, o único grupo espalhado por todo Brasil era das ‘Casas Pernambucanas’, e aqui no sul havia o ‘Hermes Macedo’, do “rio grande ao grande rio”, como eles propalavam em seus anúncios comerciais. Até brincavam naquela época que, para um lugar ser considerado cidade, precisava possuir quatro coisas: 1. Prefeitura; 2. Igreja; 3. Campo de futebol; e 4.Casas Pernambucanas...hehehehe!
Era muito agradável viajar de automóvel para perto ou para longe, pois cada recanto do Brasil tinha sua personalidade própria, com indústrias e lojas bem peculiares. Por exemplo, quem pretendia comprar louças, ia a Campo Largo; Cristais, a Blumenau; malhas, a Joinville ou Jaraguá do Sul; móveis, a São Bento do Sul ou Rio Negrinho; roupas em geral, a São Paulo; e assim por diante.
As melhores lojas de Curitiba foram fundadas por empreendedores da própria cidade, e as maiores redes eram Hermes Macedo e Prosdócimo. Nas noites quentes de dezembro, um programa muito apreciado era sair com a família para ver vitrines destas e outras lojas, quando os pais observavam as preferências dos filhos - e julgavam se cabiam nos seus bolsos - para brindá-los no Natal. Os presentes mais cobiçados eram: bicicletas, jipes, carrinhos, bonecas, patins, binóculos, relógios, radinhos de pilha, e jogos de montar e de tabuleiro. Outros presentes que agradavam a gurizada eram os trajes dos heróis do faroeste, como Zorro e Roy Rogers, com direito a cinturão encravado de rubis, revolver de espoleta, chapéu de caubói e estrela de xerife.
Quase todas às noites de dezembro, as famílias iam passear nos bairros chiques, onde era costume decorar os jardins das casas, sendo as árvores com lâmpadas e bolas coloridas, e os gramados com trenós, renas, papais-noéis e presépios. Encontrar famílias e pessoas conhecidas nesses locais era muito agradável, enriquecia o passeio quando podíamos entabular uma boa conversa, ou simplesmente demonstrar afeto e respeito. Pra encerrar a noite com chave de ouro, nada como um bom sorvete de casquinha, com direito a duas bolas - que para mim eram sempre de amendoim e ameixa.
Lembro com muitas saudades dos Natais da minha infância. Para cada idade, um tipo de presente. Não tenho como esquecer o Natal de 1956, quando ganhei um jipão verde muito bonito (e difícil de pedalar); e do relógio dourado com 18 rubis e calendário que recebi no ano seguinte, acompanhado de um sentimento de alegria muito grande. Para apreciar melhor meu presente, afastei-me dos demais membros da família e por um momento saí para fora de casa, cheio de gratidão no peito. Foi o Natal mais Natal da minha vida, pois naquela carismática solitude, aos oito anos de idade, senti uma grande paz e a viva presença do menino Deus ao meu lado, quando o mistério da vida ganhou um sentido especial para mim, naquele santo e feliz Natal!
Era muito prazeroso quando o Papai Noel vinha entregar nossos presentes, ali pelas sete da noite, e meus irmãos e eu ficávamos atentos pra tentar descobrir qual o parente que estava encarnando tão elevada função. Raramente deixávamos de descobrir, e o fazíamos mais pela escuta da voz do que pela aparência da face, que ficava quase que totalmente encoberta pelo capuz vermelho, pelo algodão imitando a barba, e pelo espesso aro dos óculos sem lentes. Não raramente, aproveitávamos a ocasião para dar um afetuoso abraço nos vizinhos, avós, tios e primos, permanecendo apenas um breve tempo na casa de cada um.
Em nossa família, tínhamos o costume de distribuir o que sobejava da ceia do Natal - e o fazemos até hoje. Montando pratos com pequenas porções de peru, maionese, arroz e empadão, e juntando um copo de refrigerante ou suco, após a ceia saímos distribuindo às pessoas solitárias e carentes do centro da cidade, sempre acrescentando um diálogo fraterno e votos de um Feliz Natal. Eu sei que não é muito, talvez seja apenas uma gota d’água num oceano, mas tal atitude pode abençoar alguém física, emocional e espiritualmente, inclusive a quem o pratica, atuando como mola propulsora para fomentar outras ações caritativas no decurso do novo ano, e retornando em efeito bumerangue em forma de alegria e honra, pois “é melhor dar do que receber”. Foi isso que o Aniversariante falou, e eu sinto que é verdade em meu ser. Feliz Natal, Feliz 2021 a todos. Deus nos abençoe e proteja!
(Marco Esmanhotto)
Fotos: Decoração de Natal das Lojas Hermes Macedo da Barão, nas décadas de 1950 e 1960.

Marco Esmanhotto
Enviado por Marco Esmanhotto em 10/12/2020
Reeditado em 01/07/2023
Código do texto: T7132272
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