Gato ladrão!

09/12/2020

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Depois de vencer a luta pelo território da minha casa, Malhadinho, o gato de rua que adotei, mudou a sua forma de agir. Andava pelo jardim mais firme e imponente, demonstrando ser o senhor do lugar. Mas, sempre interesseiro. Miava quando eu apontava pela porta da saída da casa para a varanda, vindo ao meu encontro pedinte por comida. Tinha o direito, apesar de ter-lhe ajudado a expulsar o intruso Amarelinho, na noite da contenda.

Começamos a desenvolver uma relação mais próxima, e camarada, apesar de manter-se ainda arisco em algumas situações, pois fugia ao ver minha mulher , o enxotava, não queria que ele entrasse no chalé, pois vivia passeando pelas ruas próximas, e com certeza, carregava muitos germes e bactérias em seu pelo.

Alimentava-o duas vezes ao dia, e o nosso código era: eu pegava o saco de ração e balançava-o, gerando um barulho caraterístico como de um chocalho, fazendo com que apontasse a sua cabeça, com seus dois olhos amarelos flamejantes, embaixo do vão existente entre o jardim e o piso do quartinho de despejo, era a sua casa agora, saindo em disparada na minha direção miando forte.

Chegava enroscando-se em minhas pernas, eu lhe dava um pouco de ração, que comia atento, pois qualquer movimento que escutasse ou percebesse, fugia para o seu canto, ou para debaixo do carro da minha mulher, estacionado no gramado.

À noite, de madrugada, eu acordava para ir ao banheiro e o via pela fresta da veneziana da porta em madeira que dava para a varanda, dormindo sobre um colchonete de assento do banco em madeira. Sentia a minha presença e vinha até a porta, miando sedutoramente o danado, por comida. Pegava eu o saco, fazendo o barulho característico, ele desatava a miar mais forte e alto, dando-lhe mais um pouco de ração.

Até que em um entardecer, estávamos eu e ele somente, minha mulher fora ao centro da ilha para fazer exames, ele bem à vontade, andando pela varanda, miando e entrando e saindo da sala, demonstrando assim querer virar membro efetivo da família. Minha esposa não queria, sem antes leva-lo ao veterinário e trata-lo, até castrá-lo, para poder ser o nosso gato de fato e perambular pela casa.

Seguindo nessa tarde, começo da noite, dei-lhe um pouco de ração, despejando sobre um tapete na varanda em frente à entrada do chalé, como costumeiramente fazia.

Enquanto comia, fui até ao portão de entrada do terreno e o abri para que minha esposa entrasse com o carro, estava chegando. Voltando ao terraço, vejo Malhadinho comendo um monte de ração com o seu saco ao lado! Arrastara-o pela sala, largando um rastro dela até o tapete, onde se concentrou o volume maior. Roubara naqueles minutos e mostrou ser ainda um gato de rua. E como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão! De fato e comprovado.

Dei-lhe um carreirão xingando-o de gato safado, que saiu em disparada para se entocar sob o deposito no jardim.

-Sem vergonha, hein Malhadinho! Nem bem deixei você sozinho, já mostrou que é o que é: um gatuno safado; um gato ladrão! – ralhei com ele que me olhava quieto e assustado do seu refugio seguro, com seus olhos dourados e fixos.

No dia seguinte ao amanhecer e como de costume, veio até a porta pedir comida miando. Abri-a devagar, me olhou matreiro de olhos semicerrados, se enroscando nas minhas pernas como se nada ocorrera. Um cara de pau, o danado! Dei-lhe novo carreirão, já com pena do sem vergonha, mas teria que educa-lo.

No meio da manhã ele reapareceu, e novamente o espantei com uma toalha, com minha mulher rindo da nossa relação conflituosa:

-Viu como é Fernandinho. Deu confiança para o gatinho e agora esta brabo com ele. Você dá comida todo dia, ele acha que você é o seu dono agora claro! O que você esperava?

Minha mulher tinha razão! Não podia ficar bravo com o Malhadinho, pois quem criara essa situação fora eu, ele somente se aproveitou como qualquer outro gato faria, com ou sem dono.

Na tarde daquele dia, peguei o saco e balancei. Colocou o focinho para fora da sua toca e veio lépido e “miante” até onde pus um pouco de ração, mas sem se enroscar comigo. Tive vontade de lhe acariciar o corpo, mas achei melhor não, por enquanto. Vamos manter certa distancia e precaução, e ver, se em nova ocasião, continuará um gato ladrão, ou não!

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 09/12/2020
Reeditado em 27/12/2020
Código do texto: T7131772
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